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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Conflito mortal

Disputa por estrada de seringa provoca assassinato na Resex Chico Mendes 


Ramal que dá acesso à Resex Chico Mendes, em Xapuri; entrada de novos moradores aumenta impactos ambientais e sociais (Foto: Fabio Pontes)


A contínua e crescente ocupação irregular de terras dentro da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes causou o primeiro conflito entre os moradores que resultou na morte de um deles dentro da unidade de conservação, no município de Xapuri. O caso envolve dois extrativistas que já há algum tempo disputavam uma estrada de seringa dentro da colocação Campo Verde, seringal Albacia.

Uma estrada de seringa tem o tamanho médio de 100 hectares, com uma floresta rica em seringueiras e castanheiras. Aqueles que abandonaram o extrativismo transformam parte dela em pasto para o boi.

De acordo com informações da Polícia Civil, o crime aconteceu no fim da tarde da última quarta-feira, 20, quando Josemar da Silva Conde, 47 anos, foi assassinado a tiros por um extrativista com quem pleiteava o pedaço de floresta. A disputa, inclusive, chegou a parar na Justiça, com o suposto autor do crime obtendo ganho de causa. Seu nome ainda não foi identificado.

Segundo a polícia, Josemar foi à área onde ocorreu o crime para colocar uma cerca que delimitaria as duas propriedades. Não aceitando a situação, o autor fez uso de sua espingarda e atirou contra o vizinho. Uma pessoa que acompanhava a vítima conseguiu escapar e foi a Xapuri relatar o ocorrido à polícia.

Por conta da dificuldade de acesso, o corpo de Josemar foi resgatado pelo helicóptero da Secretaria de Segurança Pública. Josemar - também conhecido como Tripinha - era pequeno empresário e mecânico de moto em Xapuri. Ainda não se sabe há quanto tempo morava dentro da Resex. Ele também era presidente do diretório municipal do PSOL.

As polícias estão em diligência para encontrar o autor dos disparos, que é morador mais antigo e extrativista. A chegada de novos ocupantes dentro da unidade passou a ser um dos principais problemas para uma unidade de conservação já bastante pressionada pelo avanço da pecuária.

A venda de lotes pelos próprios moradores é apontada hoje como uma das causas para o aumento do desmatamento, das queimadas e dos conflitos fundiários.

Estes novos moradores são pessoas sem o perfil extrativista, cuja primeira atitude ao adquirir terra é desmatar para, em seguida, fazer pastagem para o gado. Até pessoas de outros estados do país - em especial Rondônia - estão comprando lotes dentro da unidade.

Estas situações são motivo de preocupação para o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) que, com a ajuda do Ministério Público Federal, ajuíza ações para a retirada destes ocupantes ilegais. Diante da situação, muitos deles passaram a procurar os parlamentares federais do Acre para relatar o que chamam de “abusos” cometidos por fiscais do ICMBio.

Há duas semanas, a deputada federal Mara Rocha (PSDB) esteve reunida com o presidente nacional do ICMBio, coronel Homero Cerqueira, para denunciar estes eventuais excessos, numa clara tentativa de criminalizar e intimidar o trabalho dos fiscais - já bastante expostos a ameaças por suas atuações em campo.    


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