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quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Para alemão ouvir (parte 2)

Na Alemanha, governador do Acre desqualifica dados sobre desmatamento e queimadas 


Gladson Cameli em plantação de soja no Acre; a diretores do KFW, governador diz que notícias sobre Amazônia são "sensacionalistas" (Foto: Agência Acre)

Diante do risco de o Acre perder o repasse de 30 milhões de euros nos próximos anos por conta do aumento do nível de destruição da Floresta Amazônica, o governador Gladson Cameli (PP) esteve nesta quarta-feira, 11, em Frankfurt, na Alemanha, reunido com os diretores do banco de fomento KFW para negar que o estado esteja passando por uma crise ambiental.

O governador desqualificou os dados oficiais que apontam crescimento nas taxas de desmatamento e de queimadas no Acre neste seu primeiro ano à frente do Palácio Rio Branco, mantendo tendência de alta observada desde 2018. Aos diretores do banco alemão, Cameli afirmou que as notícias da Amazônia que chegam até a Europa são “sensacionalistas”. 

“Aqui mesmo na Europa chegam notícias totalmente sensacionalistas a respeito do Brasil e da Amazônia, com dados irreais sobre os índices de desmatamento e queimadas na região. Por isso, fiz questão de conversar pessoalmente para mostrar fatos, uma vez que a parceria com o KFW são extremamente importantes para o nosso estado, pois a Amazônia e a nossa gente estão acima de qualquer ideologia política”, afirmou.

A fala de Cameli se equipara ao do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que a cada entrevista desqualifica os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o aumento da devastação da maior floresta tropical do mundo. A atual crise provocada pela explosão nas queimadas desencadeou uma crise internacional envolvendo os principais líderes, incluindo a chanceler alemã Angela Merkel. 

(Leia também: Para inglês e (alemão) ouvir)

Junto com a Noruega, a Alemanha anunciou o fim de suas doações para o Fundo Amazônia por conta da forma como o governo Bolsonaro o gerencia. A proposta do Planalto é usar os recursos para pagar indenizações a grandes latifundiários que foram desapropriados em demarcações de terras indígenas e unidades de conservação.

O Acre também pode perder recursos alemães - mas neste caso não por conta dos discursos de Gladson Cameli. Por meio do Programa REM//KFW - que prevê o pagamento pela redução nas emissões de gases poluentes - o governo do Acre compromete-se a manter uma política de redução do desmatamento, com a Alemanha pagando por isso - é o chamado mercado de carbono.

A parceria foi firmada ainda nos governos petistas, sendo gestada por Binho Marques (2007-2010) e concretizada por Tião Viana (2011-2018). Durante os cinco anos da primeira fase do programa (2012-2017), o Acre recebeu 25 milhões de euros (R$ 105 milhões).

Ao fim de 2017, durante a Conferência do Clima da ONU na Alemanha, Acre e KFW renovaram a parceria por mais cinco anos.  O contrato - agora com a participação também do Reino Unido - prevê uma verba maior: 30 milhões de euros (R$ 120 milhões).

Mas como todo contrato, há as suas cláusulas que estabelecem direitos e deveres de ambas as partes. No caso do Acre, ficar com a taxa de desmatamento abaixo do teto estabelecido pelos alemães. Esse limite deve ser de 434 km2 por ano, conforme os dados do Inpe, que agora Gladson Cameli - assim como Bolsonaro - diz serem “irreais”.

Numa linha mais conservadora, o KFW estabeleceu um teto mais baixo: 330 km2. 

Em 2018, segundo os dados do Inpe, o incremento do desmatamento acumulado no Acre foi de 461 km2. Já a área desmatada entre janeiro e dezembro do ano passado foi de 393 km2.

Boletim do Desmatamento de julho produzido pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)mostra que o Acre teve desmatado 187 quilômetros quadrados de floresta nativa; no mesmo mês do ano passado, essa área foi de 35 km2 – uma variação de 434%.

O crescimento também foi registrado na comparação anual. Entre agosto de 2017 e julho de 2018, o desmatamento alcançou a marca de 104 km2; já no período de agosto de 2018 a julho último, o total de floresta destruída chegou a 371 km2 – a variação registrada pelo Imazon é de 257%.

O aumento da floresta derrubada veio acompanhada do fogo. De acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), em comparação com o ano passado, as queimadas registradas no território acreano estão 57% maiores no período de 1º de janeiro a 14 de agosto. 

Multas do Imac 

Após dizer no primeiro semestre do ano que os agricultores autuados pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) estavam desautorizados a pagar as multas aplicadas pelo órgão, Gladson Cameli afirmou aos diretores do KFW que não afrouxou as fiscalizações nos combates aos crimes ambientais.

Segundo o governo, as multas aplicadas durante as ações de fiscalização nos últimos meses somam R$ 1 milhão.

Entenda mais sobre a atual crise ambiental do Acre nas postagens abaixo 

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