Páginas

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Feliz Dia da Amazônia (em risco)

Estátua de Chico Mendes, no centro de Rio Branco, protegida contra a fumaça (Foto: Sérgio Vale)


A imagem acima, feita pelo repórter-fotográfico acreano Sérgio Vale, talvez seja a melhor representação da mais recente crise internacional envolvendo a Floresta Amazônica. Enquanto as queimadas avançavam sobre a vegetação, a estátua do líder seringueiro Chico Mendes - colocada no centro de Rio Branco - era protegida contra a fumaça tóxica com uma máscara.

Nela estava escrito “Empate Já”, uma referência ao movimento formado pelos seringueiros acreanos durante a década de 1980 contra a derrubada da floresta pelos grandes pecuaristas do centro-sul do país, que por aqui chegavam para a abertura de pastos. Passadas três décadas, a mensagem é a de que novos “Empates” são necessários pra evitar a destruição da Amazônia.

Certamente as semanas que se passaram foram as mais ameaçadoras para a preservação e conservação da maior floresta tropical do mundo dos tempos recentes. Amparados pelo discurso oficial do governo de desmonte das políticas ambientais, os desmatadores acionaram suas motosserras e botaram fogo na vegetação derrubada desde os primeiros dias de agosto. 

Enquanto por aqui já respirávamos fumaça e tínhamos que todos os dias tirar a fuligem das queimadas das varandas de nossas casas, o resto do Brasil não se dava conta. Foi só a fumaça desembarcar pela avenida Paulista para o país e o mundo acordarem para uma floresta que já estava em chamas havia algum tempo.

A reação internacional foi imediata. Os líderes mundiais exigiram uma ação imediata por parte de Brasília que, como de costume desde o dia 1 de janeiro de 2019, reagiu da forma mais esdrúxula possível. A primeira ração foi afirmar que quem estava botando fogo na Amazônia eram as ONGs internacionais.

Para o governo Bolsonaro, tudo estava normal na região, tudo sob controle. O presidente acusava a França – país que teve a reação mais contundente – de interferir na soberania nacional. Logo Bolsonaro, que teve como uma de suas primeiras propostas de início de mandato permitir a construção de uma base militar na Amazônia pelos americanos – de quem é fiel subserviente.

A resposta concreta ao fogo só veio após as ameaças de boicote aos produtos do agronegócio brasileiro - principal setor fiador do Planalto. Temerosos de prejuízos milionários, os ruralistas foram para cima e também cobraram ação efetiva do governo. Não fosse isso, a floresta ainda estaria em brasa.

No Acre também temos o nosso Bolsonaro na sua versão piorada. O estado enfrentou um salto nos índices de desmatamento e queimadas graças ao governador Gladson Cameli (PP) e suas declarações estapafúrdias.

Ao dizer em alto e bom som que ninguém mais era obrigado a pagar as multas aplicadas pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), Cameli acionou o gatilho para a destruição da floresta.

Como já escrevi antes, o governador jogou a gasolina sobre a mata e riscou o fósforo. O desastre ainda está visível. Ao decidir que o agronegócio será o grande motor da economia acreana, Gladson Cameli fragiliza todo um mecanismo de proteção da maior riqueza da qual o Acre é dono: 87% de cobertura florestal amazônica.

Após um agosto literalmente infernal na região, parece que aos poucos a situação vai melhorando com as chuvas neste período de transição para o “inverno amazônico”. Setembro ainda é um mês seco, e toda vigilância precisa ser mantida.

Neste 5 de setembro, comemoramos o Dia da Amazônia. Infelizmente ainda não temos muito o que celebrar, apenas lamentar pelo o que aconteceu e pelo o que pode vir a acontecer diante das posturas dos atuais governantes brasileiros. Porém, estar atento e defender a sobrevivência da floresta e dos povos que nela vivem passam a ser uma obrigação de cada cidadão do planeta.

Por fim, não há a menor dúvida de que, sim, novos “Empates” serão necessários - novos Chicos Mendes precisarão surgir.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário