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terça-feira, 21 de março de 2023

cercados e pressionados

Pressionados por invasões, Karipuna agora são impactados por cheia do rio Jaci-Paraná


Para liderança indígena, construção das usinas do Madeira influenciam enchentes frequentes e intensas na região. Hidrelétricas são heranças dos governos Lula e Dilma Rousseff 

 

Aldeia Karipuna, atingida pela cheia do Jaci-Paraná (Foto:Cedidas)

Após passarem os últimos quatro anos ameaçados pelo aumento das invasões de seu território por grileiros e madeireiros, o povo Karipuna, de Rondônia, agora se vê afetado pelo transbordamento do rio Jaci-Paraná, deixando-os ainda mais em situação de vulnerabilidade. Apesar de ser um fenômeno comum nesta época do ano no sul da Amazônia, as enchentes passaram a acontecer com mais frequência e intensidade desde a construção das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira. “Essa usina impacta a gente culturalmente, além do impacto social e ambiental. Sem falar que o nosso território vem sendo impactado, afeta o nosso dia a dia, as plantações que a gente tem. Com a água acaba se perdendo tudo”, diz a liderança André Karipuna, em conversa com ((o))eco via mensagem de aplicativo. 

“Nós do povo Karipuna estamos passando por uma situação muito difícil no momento. O rio Jaci subiu muito. Metade da aldeia foi para o fundo, as casas, metade foi para o fundo. Ainda temos os problemas com os grileiros, com os madeireiros, que também estão no território e são bastante. Então agora temos dois problemas muito graves”, afirma o líder indígena.

Herança dos governos petistas no Palácio do Planalto, as usinas do Madeira também podem ser apontadas como responsáveis pelo aumento dos casos de invasões dentro da Terra Indígena Karipuna – e da vizinha Reserva Extrativista (Resex) Jaci-Paraná, unidade de conservação estadual que há anos foi transformada em médias e grandes fazendas de gado.  

Com a explosão demográfica observada no entorno de Porto Velho durante as obras de construção de Jirau e Santo Antônio, entre o segundo mandato de Lula e o primeiro de Dilma Rousseff, muitos dos trabalhadores foram buscar lotes de terra dentro do território indígena e da unidade de conservação. A abertura de ramais (estradas de terra) facilitou o acesso dos invasores.  

Com o desmonte da política ambiental e indígena promovida pelo governo Jair Bolsonaro (PL), as pressões sobre o território Karipuna se intensificaram. No âmbito estadual, o governador Marcos Rocha (União) enviou para a Assembleia Legislativa o projeto de lei complementar (PLC 80/2020), aprovado em maio de 2021, que desafetou parte da Resex Jaci-Paraná, fator que serviu como outro incentivo à grilagem de terras públicas em Rondônia.

Com 153 mil hectares, a TI Karipuna se espalha pelos territórios de Porto Velho e Nova Mamoré. Ela é uma das últimas áreas de floresta em região fortemente cercada por fazendas de gado e soja, além da atividade madeireira. Restritos a uma população de pouco mais de 60 pessoas após quase terem sido exterminados no processo de “marcha para o oeste”, os Karipuna encontram dificuldades para conter os invasores.

Ano passado, o desmatamento dentro da TI Karipuna foi de 17,41 km². Ela foi a quarta TI mais desmatada na Amazônia Legal. Entre 2019 e 2022, a área de Floresta Amazônica derrubada no interior do território Karipuna foi de 43,28 km². Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

Com o transbordamento do Jaci-Paraná, a situação do povo é de ainda mais vulnerabilidade em sua segurança alimentar e acesso à água potável. A enchente acaba por destruir os roçados e as criações de pequenos animais, além de inutilizar as fontes de água para consumo. A aldeia fica localizada na margem esquerda do manancial. Do outro lado fica o que sobrou de floresta da Resex Jaci-Paraná.

O rio Jaci-Paraná é um dos principais afluentes do Madeira. A região onde os mananciais se encontram está bastante represada. Grandes áreas ficaram inundadas após a construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio. Com as intensas chuvas, comuns neste período do ano, o Madeira também apresenta aumento em suas cotas de medição.  

Segundo dados do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), nesta segunda-feira (20), o rio Madeira apresentava a marca de 13,68m. Em comparação com a última sexta (17), houve aumento de 22 cm do nível do rio. Conforme o boletim, mesmo apresentando leve tendência de elevação, o Madeira ainda tem “cotas abaixo da média para esta época do ano”.

Em 2014, a aldeia Karipuna também ficou debaixo d’água com a chamada “Grande Cheia do Madeira”. Naquele ano, já com as usinas em funcionamento, o manancial atingiu um de seus níveis recordes: 19,74m em Porto Velho. Cidades localizadas ao longo do leito, incluindo a capital rondoniense, foram inundadas. O Acre ficou isolado do restante do país por duas semanas após a BR-364 ficar submersa.

Já naquela época, apontava-se a construção das usinas como responsáveis. Até o governo da Bolívia de Evo Morales culpou as barragens pela inundação de cidades e comunidades ribeirinhas no país vizinho. Tanto o governo Dilma quanto os consórcios que administram os complexos negaram a relação. 


Reportagem completa disponível em ((o)) eco


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