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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

metamorfose ecológica

Com mudança de postura, governadores do AC e RO iniciam mandatos com agenda mais ambiental

Em 2019, ao assumirem pela primeira vez os governos, os bolsonaristas Cameli e Rocha tinham bandeiras antiambiental e de defesa do agronegócio a todo custo  



Governador do AC, Gladson Cameli, em reunião do GCF, no México (Foto:Secom)

Os governadores do Acre, Gladson Cameli (PP), e o de Rondônia, Marcos Rocha (União Brasil), participaram, essa semana, da 13o Reunião Anual da Força-Tarefa dos Governadores para o Clima e Floresta (GCF Task Force), em Yucatán, no México. A participação da dupla em um evento sobre a defesa do meio ambiente, logo no início de seus segundos mandatos, representa uma mudança radical de postura - quando na comparação com o começo de 2019.


Há quatro anos, os dois assumiram os governos de seus estados embalados pela onda bolsonarista que atingiu o país nas eleições de 2018. Na Amazônia Legal, essa onda foi um tsunami, com o então candidato Jair Bolsonaro recebendo mais de 70% dos votos válidos em alguns estados. Os discursos antiambiental e de fortalecimento do agronegócio também impulsionam, eleitoralmente, as vitórias de Cameli e Rocha.

Se no começo de 2023 os dois dão as caras no encontro do GCF, em 2019 suas agendas estavam muito mais voltadas para a participação em feiras agropecuárias entre as capitais Rio Branco e Porto Velho. Gladson Cameli e Marcos Rocha podem ser definidos como os principais patrocinadores políticos para a proposta de criação da zona de desenvolvimento comum na tríplice divisa Amazonas, Acre e Rondônia, a Amacro.

O plano de uma zona livre para o agronegócio entre os três estados ficou no papel, mas as consequências para a preservação da floresta foram desastrosas. Juntos, Amazonas, Rondônia e Acre chamaram a atenção, ao longo dos últimos quatro anos, pelo aumento recorde das taxas de desmatamento e queimadas - estando parte dessa devastação concentrada na região Amacro.

Com a posse de Lula na Presidência, Cameli e Rocha se veem obrigados a adotar uma postura mais verde, menos agressiva ao meio ambiente. A mudança mais notória está no governador acreano, que passa por uma transformação radical, defendendo a preservação da Floresta Amazônica, com a geração de renda para a população local.

“Estamos aqui para reforçar o nosso compromisso com o desmatamento zero e, ao mesmo tempo, apresentar políticas públicas sustentáveis voltadas ao meio ambiente para a geração de emprego e renda”, disse Cameli em sua fala no México.

“Mais de 85% do nosso território é composto por floresta. Sabemos que não é preciso derrubar mais nenhuma árvore porque a área aberta já é suficiente para o agronegócio sustentável. Temos tecnologia suficiente para aumentar a produtividade”, completou ele, não abandonando por completo sua bandeira política-eleitoral do agronegócio.

Quatro anos atrás, embalado pela força do bolsonarismo e o antipetismo no Acre, Cameli jamais teria um discurso enfático em defesa do meio ambiente - muito pelo contrário. Com o estado dependente das parcerias com o governo federal para sobreviver, o governador se vê obrigado a rezar a cartilha ambiental imposta por Lula.

A fragilidade política do governador, que é investigado por corrupção pela Polícia Federal, também é outro fator a estar mais sintonizado com o atual ocupante do Palácio do Planalto.

Já a conversão ambiental de Marcos Rocha parece seguir uma trajetória “lenta, gradual e segura”. O coronel da PM de Rondônia eleito governador é mais fiel ao bolsonarismo, não se rendendo tão fácil ao presidente petista. O fato de não ser investigado por órgãos federais o deixa numa zona de conforto para não ser taxado de ambientalista num estado dominado pela força do agronegócio.

Contudo, sua simples participação no evento de governadores pelo clima e floresta já representa uma mudança de postura, e a disposição política para não ficar isolado ante Brasília. Em novembro, Rocha e Cameli já tinham participado da COP-27 no Egito - em que Lula também esteve. O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), outro bolsonarista ferrenho na região, também foi à conferência do clima da ONU.

Na reunião anual da GCF no México, o estado que se apresenta como o celeiro do agronegócio esteve representado pelo vice-governador, Otaviano Pivetta.       

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