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domingo, 27 de junho de 2021

a reinvenção Yawanawa

Com pandemia, povo Yawanawa prioriza segurança alimentar e resgate de modo de vida tradicional


Contato com colonizador provocou a quase extinção da cultura Yawanawa, recuperada nos últimos 20 anos (Foto: Tashka Peshaho Yawanawa)


 Após serem diretamente impactados pela pandemia da Covid-19 ao longo do ano passado, os Yawanawa do rio Gregório, no Acre, colocam em prática projetos que estabelecem uma reorganização social – dando poder às mulheres nas tomadas de decisões – e fortalecendo a agricultura e a criação de animais que lhes assegurem a segurança alimentar para enfrentar eventuais novos isolamentos em crises sanitárias. As cheias ocorridas no início de 2021 em grande parte da Amazônia afetou as aldeias Yawanawa, comprometendo as plantações nos roçados, reduzindo a oferta de macaxeira e banana.  

Conhecidos pela realização de festivais culturais que resgatam o modo de vida dos antepassados – após toda essa ancestralidade ter sido quase extinta – os Yawanawa dão mais um passo para recuperar o modelo de arquitetura das construções feitas por eles antes do contato com o colonizador, no final do século 19.

Todos estes projetos estão incluídos no Plano de Vida Yawanawa, construído ao longo dos últimos seis anos após intensos diálogos ocorridos nas 10 aldeias da Terra Indígena do Rio Gregório, localizada no município de Tarauacá, no Acre. Em pleno auge da pandemia da Covid, os indígenas começaram a tirar do papel o planejamento, em uma parceria com a organização Conservação Internacional. Entre eles está o fortalecimento do sistema de produção nos roçados e a criação de pequenos animais como galinhas e porcos. 

Os Yawanawa ainda buscam ampliar suas fontes de renda dentro das aldeias com a produção do açaí extraído dentro de seu território. “Nós queremos criar novos negócios que possam gerar renda para a comunidade para ela não se sentir tentada a tirar madeira ou fazer qualquer outra atividade predatória e proteger os 200 mil hectares da terra”, diz a liderança Tashka Peshaho Yawanawa, presidente da Associação Sociocultural Yawanawa (ASCY). 

O projeto também fortalece a criação de peixes num modelo de piscicultura em açudes, possibilitando uma alternativa ao modelo tradicional de pesca no rio Gregório e igarapés. Nos meses do “verão amazônico” (de julho a setembro), os mananciais chegam a níveis críticos, dificultando tanto a prática da pesca quanto a navegação. Com tais práticas, os Yawanawa reduzem a dependência de alimentos comprados na cidade.


A pressão da pecuária

A Terra Indígena do Rio Gregório – também habitada pelos Noke Ko’í – está numa das regiões mais ricas em madeira nobre. Todo este potencial a faz ser uma das mais pressionadas pelo desmatamento. A TI está próxima a um conjunto de unidades de conservação estaduais cujas áreas serão concedidas pelo governo Gladson Cameli (PP) para exploração madeireira, por meio de planos de manejo. A concessão deve ser votada ainda esse ano pela Assembleia Legislativa.

Entre as áreas que serão concedidas estão a Floresta Estadual do Rio Gregório e a Floresta Estadual do Mogno. O território dos Yawanawa também tem como vizinha uma propriedade privada cujo dono seria o apresentador Ratinho, um dos principais aliados do presidente Jair Bolsonaro. Em entrevistas, Ratinho já admitiu ser dono de terras no Acre, mas sem precisar a localização. A fazenda teria o mesmo tamanho da Ti do Rio Gregório: 200 mil hectares. Até o momento não se tem informações se a área estaria tendo alguma atividade. O mais provável é que também invista no manejo madeireiro.


Quer saber mais? 

Leia reportagem completa na Amazônia Real 

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