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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Outubro sem água e com muito fogo

Com outubro quente e seco, queimadas na Amazônia estão 200% superiores


Além de queimadas recordes em 10 anos, Acre também teve a maior área atingida pelo fogo na década: 248 mil ha


Após 2019 já ter sido crítico para a proteção da Amazônia com a chegada ao poder de grupos políticos em Brasília e nos estados da região com uma agenda antiambiental, em 2020 a situação ficou agravada com a temporada quente e seca estando mais intensa e prolongada. As primeiras chuvas de outubro - mês de transição para o “inverno amazônico” - estão fracas e mal distribuídas, o que favorece o prolongamento do uso do fogo para além da temporada oficial de estiagem, de junho a setembro. 

Entre primeiro e vinte de outubro, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)  identificou, em todo o bioma Amazônia, 12.774 focos de queimadas. Na comparação com os mesmos 20 dias de outubro do ano passado, os focos estão 211% superiores; naquele período foram 4.103 focos. De 1 de janeiro a 20 de outubro, a Amazônia tem 88.804 focos de queimada - aumento de 25% em comparação com igual intervalo do ano passado.  

Durante os 31 dias de outubro do ano passado, o Acre, por exemplo, teve 354 focos; faltando pouco mais de uma semana para o mês acabar já são 1.478.  Entre os nove estados da Amazônia Legal, o Acre ocupa a quarta colocação no ranking do fogo de outubro, à frente do Amazonas, que tem território dez vezes maior, e também enfrenta um 2020 recorde na quantidade de queimadas, sobretudo nos municípios ao sul, na divisa com Acre e Rondônia.  

Com o clima alterado que retarda o início de um “inverno amazônico” mais robusto, o impacto do fogo em 2020 é maior. De acordo com o  Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (LabGama), da Universidade Federal do Acre (Ufac), a área queimada no estado este ano é a maior já registrada na última década. 

Entre julho e o dia 18 de outubro, o Acre tem 248.200 hectares de terra queimada, chamadas de “cicatrizes”. O número se alia a outro recorde: 2020, segundo o Inpe, também é o mais grave em dez anos em registro de focos de queimadas: 8.879 do começo do ano até aqui. A quantidade só perde para 2005, quando o Acre e todo o sul da Amazônia foram impactados por uma forte estiagem causada pelo aquecimento das águas do Atlântico, fenômeno que se repetiu em 2010 e agora em 2020. 

O fenômeno é conhecido pela sigla em inglês AMO, cuja tradução para o português é Oscilação Multidecadal do Atlântico. Seu principal efeito é a redução da umidade na parte mais sul da Amazônia e uma concentração maior ao norte. Além das condições ambientais propícias à proliferação do fogo, também há o ambiente político de desmonte das estruturas de estado que deveriam atuar para a proteção da Amazônia, o que agrava o quadro. 


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