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segunda-feira, 6 de maio de 2019

O buraco (verde) é mais embaixo


Após uma semana de passeios e de discussões sobre o futuro do planeta e os impactos das mudanças climáticas, a comitiva do agro é pop do governo Gladson Cameli voltou, digamos, ecologicamente correta. A turma que foi eleita com a promessa de transformar o Acre na maior potência global do agronegócio - nem que para isso colocasse toda a nossa floresta no chão - viu que o buraco é verde, e está um pouco mais embaixo.

Alguns dizem que a ida de Gladson Cameli para a reunião anual da Força-Tarefa dos Governadores para o Clima e Florestas (GCF), realizada na semana passada na cidade colombiana de Caquetá, fez o chefe do Palácio Rio Branco mudar seus conceitos sobre políticas ambientais, bem como a necessidade de ao menos manter, e não fragilizar as leis que protegem o meio ambiente. 

Para o grupo que hoje está no poder e que ficou 20 anos na oposição, todo este debate não passa de “coisa de petista e comunista”, e que por aqui ficou conhecida como “florestania”. Por conta disso, uma das suas primeiras ações foi tentar destruir toda a estrutura das políticas ambientais construída ao longo das últimas duas décadas.

Os discursos de Cameli na Colômbia mostram, aparentemente, um novo governador, agora consciente da necessidade de, sim, ter uma agenda ambiental forte que proteja nossa floresta não só para a sobrevivência local, mas também de toda a humanidade.

Contudo, o governador é conhecido por dançar conforme o ritmo. Tais declarações, óbvio, só foram feitas porque ele estava em sua primeira agenda internacional para tratar do tema, e o ambiente assim exigia. Se amanhã o progressista estiver reunido com os ruralistas na sede da Confederação Nacional da Agricultura, ele vai esquecer tudo o que disse na Colômbia e acusar o ambientalismo de atraso e entrave para o “desenvolvimento” do Acre. 

Portanto, as declarações elaboradas pela sua assessoria não são nada confortantes ante o histórico de sempre mudar de opinião. É o famoso, o que ele fala, não anote.

O GCF tornou ainda mais claro o que já sabíamos desde 1º de janeiro: o governo não tem uma política de desenvolvimento econômico clara para o Acre. Todos os projetos citados por Cameli foram iniciados na gestão passada. Ainda que tivessem sido mal planejadas e executadas, elas serviram de bases para uma proposta que conciliasse produção rural com sustentabilidade; o desafio, agora, é melhorá-las. 

Na Colômbia, Gladson Cameli percebeu que a junção produção/preservação não é apenas um clichê, mas uma necessidade. O Acre tem plenas condições de ser uma grande referência na produção agropecuária e, ao mesmo tempo, gerar riqueza para suas populações tradicionais a partir de uma exploração sustentável e racional dos recursos florestais.

Aliás, podemos ganhar muito dinheiro sem tirar uma única semente da floresta. Basta deixá-la lá, quietinha, estocando carbono, e alguns milhões de dólares vão jorrar para os cofres do Estado.

É de se esperar que, de fato, Gladson Cameli tenha aprendido e compreendido a importância do Acre ver a floresta não como empecilho, mas como nosso grande potencial. Se ele assim proceder e, simultaneamente, potencializar as áreas já desmatadas - com uma agricultura e pecuária que beneficiem pequeno, médio e grande produtor - o Acre tende a se consolidar como referência na conturbada relação crescimento/proteção ambiental.

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