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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Juma, as Olímpiadas e o Exército

Nesta segunda-feira completa uma semana da passagem da Tocha Olímpica por Manaus, e cujo principal legado foi a lamentável morte da imponente onça-pintada Juma. O fato, que a princípio ficou restrito ao noticiário regional, em minutos ganhou as capas dos jornais do país e do mundo. O episódio ganhou repercussão por se tratar de dois pontos importantes: o principal evento esportivo do planeta e um animal silvestre ameaçado de extinção.

A morte de Juma também colocou o Exército Brasileiro no olho do furacão –logo os militares que tanto trabalham para passar a léguas de distâncias de crises de imagem como essas. O caso serviu para levantar outros dois pontos importantes: a importância da conscientização para a preservação de nossa fauna e flora, e o olhar atento que a sociedade civil deve ter sobre o seu Exército.

Ninguém é tolo o suficiente para afirmar que Juma foi “assassinada” por bel-prazer do militar que contra ele precisou atirar. Lógico que não. A morte foi uma fatalidade ocasionada por uma falha no protocolo de segurança para o manejo de um animal selvagem, manejo este o qual os militares na Amazônia estão tão preparados.

Essa expertise é tão grande que alguns deles ganharam o nome de “onceiros”. A questão é que houve uma falha ao oferecer condições para que a corrente presa à coleira de Juma se desprendesse. É inevitável que numa situação onde a vida humana está em risco, ela deve ser preservada acima de tudo.

Contudo, o episódio revela o despreparo do Exército para lidar com situações como as provocadas pela repercussão. Usando termos militares, a bomba explodiu no colo do Exército que, logo em seguida, sofreu um bombardeio de críticas. No fim das contas, a tropa acabou por assumir com todo o ônus, quando os organizadores do Comitê Rio 2016 também deveriam ser responsabilizados.

A morte de Juma revelou que o Exército não se preparou para responder à crise de forma transparente e eficaz. A instituição demorou a confirmar a morte, e emitiu notas confusas para a imprensa –além de, até o momento, não reconhecer que falhou. Mas não se pode negar que o Comando Militar da Amazônia recebeu todos os jornalistas e entidades interessadas em apurar o caso.

Eu mesmo estive no CMA, mas em minha avaliação falta mais transparência. Na quinta houve o comunicado de que o Exército não se pronunciaria mais. É um direito deles e uma estratégia para deixar o assunto cair no esquecimento –até que outro grande fato ofusque de vez a morte da onça. Mas a imprensa livre e independente em seu trabalho de vigilância não deixará o caso cair no ostracismo.

Não se trata de uma “perseguição” à principal força militar brasileira, a maior da América Latina. Como jornalista nascido na Amazônia, conheço e sei da importância do Exército para a região –a mais rica em vida e a mais cobiçada mundo afora. O Exército tem uma enorme capacidade de mobilização na Amazônia, uma área conhecida por suas dificuldades naturais de locomoção. Uma tropa é movida de Manaus para Marechal Thaumaturgo, na remota fronteira do Acre com o Peru, em questão de horas.

Mesmo com todo seu rigor disciplinar e de hierarquia, a força também está sujeita a passar por situação como essa. Ignorar o assunto não é a melhor das medidas. Sabemos que os militares trabalham com a máxima eficácia para não se ver às voltas em turbulências como a provocada pela morte do Juma.

Daqui em diante é preparar melhor seus homens para estarem à altura de lidar com questões como a da semana passada. Estamos na era da transparência máxima, onde cada cidadão brasileiro tem o direito de saber como suas instituições se comportam. O processo interno que apura as circunstâncias da morte da onça não pode receber um carimbo de confidencial em nome da segurança nacional, e parar num cofre lançado no meio do rio Amazonas.    


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