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terça-feira, 10 de agosto de 2021

Gladson Cameli: o nosso Nero da Amazônia

 A História nos diz que o imperador romano Nero seria o responsável por incendiar a capital do império. Se de fato foi ele ou não, o episódio virou uma referência para metáforas ao lidarmos com certas situações nesta contemporaneidade tão incendiária, em particular na política e no meio ambiente. Aqui pelas bandas do Aquiry, por exemplo, podemos afirmar que o governador Gladson Cameli (PP), com sua versão mais arcaica e retrógrada do agronegócio, é o nosso Nero de 2021 diante das queimadas descontroladas que destroem o meio ambiente e arruinam a nossa saúde.    

Às vésperas de um ano eleitoral, Cameli já afirmou que fará do agronegócio o carro-chefe das políticas de seu (des) governo em 2022. Historicamente, os anos eleitorais no Acre são os mais críticos em registro de queimadas e desmatamento. Para não perder o apoio (votos e doações) do setor rural, os governantes de plantão fazem vista-grossa com o fogo e a fumaça - e as dezenas de hectares desmatados. 

O problema é que, com Gladson Cameli, não importa se o ano é de eleições ou não: a motosserra e a fogueira fazem um estrago medonho a cada verão amazônico desde que ele virou governador. 

A partir de 2019, quando assumiu o Palácio Rio Branco, o Acre virou a pior referência no que diz respeito à preservação da Amazônia; isso num estado que tinha 86% de cobertura florestal nativa. Não sabemos o que vai sobrar de mata em pé até 2022 - ou 2026, caso se reeleja. Desde sua fatídica declaração de que ninguém autuado pelo Imac precisaria mais pagar as multas ambientais “porque agora quem está mandando sou eu”, o Acre vive uma catástrofe ambiental. 

Se até o fim de julho a situação aparentava estar tranquila quanto às queimadas por aqui, tudo piorou nos últimos dias. Em 2020, o fogaréu começou bem mais cedo; já em meados de junho e julho as cidades do Acre ficaram tomadas pela fumaça. Como 2021 foi um ano de inverno amazônico muito rigoroso, acredito que a alta umidade contribuiu para retardar a temporada do fogo. Agora, à medida que os dias quentes e sem chuva se ampliam, o matagal vai ardendo em chamas. 

Ao se olhar os dados oficiais do Programa Queimadas, do Inpe, vê-se que apenas Acre e Rondônia apresentam elevado crescimento proporcional na quantidade de focos de queimadas na Amazônia Legal até este 10 de agosto. Entre o primeiro dia do ano até 10 de agosto, o Inpe já registrou 19.438 focos de queimada no bioma Amazônia. Numericamente o Acre, com 1.443 focos, fica atrás de Rondônia (2.345), Amazonas (4.134), Pará (5.119) e Mato Grosso (5.310). 

Contudo, ao se fazer comparativo proporcional entre a quantidade de queimadas neste período de 2021 com o do ano passado, apenas Acre e Rondônia apresentam elevação, respectivamente, de 3% e 46%; todos os demais estados estão em queda. No bioma Amazônia como um todo a redução é de 22%. Ainda é cedo para comemorações na queda das queimadas na região, já que apenas agora o verão amazônico apresenta sua face mais intensa, estendendo-se até setembro e outubro. 

Se em 2021 - ano não eleitoral - a situação ambiental (e a nossa saúde) do Acre se encontra crítica, imagina em 2022, ano que Gladson Cameli vai tentar mais quatro anos como governador, fazendo do agronegócio sua principal bandeira de gestão e, claro, eleitoral. Será um verdadeiro deus-nos-acuda. Parece que o Acre tem tudo para se transformar na Roma queimada do século 21 nos próximos anos. 


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