Páginas

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Uma resposta à altura

Temos o cuidado para o fogo não entrar na floresta, diz liderança indígena 


Desde que os biomas brasileiros passaram a sofrer com o desmatamento e as queimadas recordes a partir de sua chegada ao Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem preferido transferir a responsabilidade pelo caos para os outros. Enquanto ele e seu ministro da destruição do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atuam para desmontar a estrutura dos órgãos ambientais do país, a estratégia é responsabilizar setores da sociedade pela atual tragédia ambiental brasileira. 

Em 2019 a opção foi culpar as ONG’s; agora em 2020 os povos indígenas e as demais populações tradicionais da Amazônia e do Pantanal passaram a ser alvo dos discursos presidenciais. De acordo com Bolsonaro, as atuais queimadas registradas nos dois biomas é resultado do fogo feito em roçado por indígenas e pequenos produtores que sai do controle e adentra na mata fechada. 

Não é novidade para ninguém que os povos indígenas fazem uso do fogo para limpeza de seus roçados. Detentores de uma relação ancestral com o fogo, eles sabem como poucos fazer o uso controlado para evitar, justamente, aquilo de que são acusados agora. 

“Ele não conhece a realidade da população indígena. Não conhece o trabalho que a gente faz no roçado. Nunca esteve numa aldeia para saber como nós queimamos um roçado”, diz Ismael Shanenawa, agente agroflorestal indígena da aldeia Shane Kaya, da Terra Indígena Katukina/Kaxinawá, no município de Feijó (AC). 

“A gente vem aprendendo isso de geração em geração. O meu avô, o meu pai, que derrubam um roçado, a gente faz uma queimada controlada. A gente sabe queimar, não deixa o fogo espalhar. A gente tem o maior cuidado quando vai tocar fogo para ele não se espalhar pela floresta”, ressalta ele. 

A pedido do blog, Ismael gravou este vídeo com o depoimento sobre como o povo Shanenawa faz o uso da queima para preparo do solo, além de comentar as atuais afirmações do presidente da República. 


Assista: 





Nota: Dos 151 mil hectares de áreas queimadas no Acre entre o fim de julho até o dia 19 de setembro, apenas 1% está dentro de terras indígenas, conforme levantamento do Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (Labgama), da Universidade Federal do Acre. Já dos 6.553 focos de queimadas detectados pelo Inpe entre agosto e 24 de setembro, somente 179 foram dentro de terras indígenas, que correspondem por 14,56% do território acreano. Ou seja, o impacto dos indígenas no ambiente é mínimo.    


Nenhum comentário:

Postar um comentário