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quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Cicatrizes

Áreas queimadas no Acre estão 17% superiores às registradas em 2019  




O total de áreas de vegetação atingidas pelo fogo entre os meses de julho e agosto de 2020 é o maior já registrado dos últimos três anos no Acre. De acordo com o  Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (LabGama), da Universidade Federal do Acre (Ufac), foram identificados 64.367 hectares de cicatrizes de queimadas em todo o território do estado neste período. O número está 17% acima do registrado em igual intervalo de 2019, e 126% ao de 2018. 

Cicatrizes de queimadas são as áreas tomadas pelo fogo e que deixam como vestígio todo material orgânico carbonizado, sendo captadas pelos satélites da Nasa. Agosto foi o mês mais crítico deste triênio em áreas devastadas pelos fogo no Acre, com mais de 50 mil hectares de vegetação transformados em cinzas. O dado se alinha com o registro recorde de focos de queimadas detectados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), quando o Acre ficou na terceira posição entre os nove estados da Amazônia Legal. 

O estado registrou, entre 1 e 31 de agosto, 3.578 focos de queimada. Já Mato Grosso, que tradicionalmente ocupa as manchetes ao lado do Pará, como um dos estados que lideram as estatísticas de desmatamento e incêndios, teve detectado 3.336 focos. O vizinho Rondônia ficou com 3.086 focos.  No acumulado de 2020 o Acre tem 5.953 focos captados pelos satélites do Inpe - 17% a mais do que 2019. 

Os dados do Labgama ainda não constam a área queimada de setembro. Apesar de muitas previsões nada otimistas para o clima - como a ocorrência de uma seca severa -, em alguns pontos do estado têm caído chuva, o que contribui para reduzir o impacto do fogo. 

Segundo o estudo da Ufac, as categorias fundiárias que mais registraram áreas queimadas em 2020 são as terras públicas e os projetos de assentamento. Cada uma delas teve uma média de vinte mil hectares afetados pelo fogo. Chama a atenção o fato de terras públicas ocuparem o topo do ranking, o que demonstra o avanço do desmatamento nestas áreas para fins de grilagem. 

A invasão de terras de propriedade da União ou do estado passou a ser o problema ambiental mais grave enfrentado pelo Acre de 2019 para cá. Além de aumento recorde de queimadas, o estado agora figura com níveis recordes de desmatamento. Ano passado atingiu a maior marca da última década: 700 quilômetros quadrados. 

Entre 1 de janeiro e 31 de agosto deste ano, o Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe, já emitiu 3.316 alertas para o território acreano, somando uma área de 331 quilômetros quadrados de desmatamento.    

Entre as unidades de conservação mais impactadas pela ação humana a Reserva Extrativista Chico Mendes lidera tanto no quesito derrubadas quanto queimadas. O Deter captou 34 quilômetros quadrados de desmatamento dentro da reserva em 2020, enquanto as cicatrizes de queimadas já somam 2.431 hectares. De janeiro até a segunda quinzena de setembro a UC apresenta focos de queimadas.      


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