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terça-feira, 22 de setembro de 2020

Análise

 Os governos militares são um desastre para a Amazônia 


As falas e as práticas dos integrantes do alto escalão (todos oriundos dos quartéis) do atual governo brasileiro atestam: os militares na condução dos rumos políticos do Brasil representam um verdadeiro desastre na proteção da Floresta Amazônica. Foi assim no passado durante os 20 anos de ditadura resultante de um golpe em 1964, e agora no governo democraticamente eleito de Jair Bolsonaro, que não tem muita afeição pela democracia. 

Desde o retorno dos militares ao Palácio do Planalto no início do ano passado, a Amazônia - e todos os demais biomas - voltou a registrar níveis recordes de desmatamento e queimadas. Não que os comandantes das Forças Armadas sejam os responsáveis diretos pela atual devastação ambiental do Brasil, mas sim seu comandante-em-chefe, o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, um militar dono de uma carreira bastante questionável nos quadros do Exército. 

Bolsonaro tem uma posição claramente contrária à proteção dos recursos naturais do país, bem como das populações tradicionais que vivem nestes biomas. Sua visão é a do desenvolvimento a todo e qualquer custo, nem que para isso tenha que passar a boiada. 

A sua eleição e consequente chegada ao Planalto foi a libertação tão desejada por aqueles que se sentiam reprimidos pelos órgãos ambientais durante os governos passados, e se sentem à vontade para cometer os mais variados crimes aqui na região - da grilagem de terras públicas à ampliação dos garimpos -  convictos de que têm o respaldo do líder máximo da nação. 

Tanto assim que uma das principais práticas do governo Bolsonaro é o desmonte de órgãos como Ibama e ICMBio. O resultado está aí para o mundo todo ver e se aterrorizar. As duas atitudes do governo para lidar com a situação são a de 1) colocar a culpa pelo caos nas costas das comunidades tradicionais e 2) recorrer aos militares para tentar amenizar os prejuízos e mostrar à comunidade internacional que algo está sendo feito para não prejudicar seu principal avalista político-econômico: o agronegócio. 

O mesmo agronegócio que por aqui chegou e se expandiu durante a ditadura militar (1964-1985) da qual Bolsonaro é um saudosista. A política de “ocupação” e “desenvolvimento” adotada pelo regime foi a de entregar vastas áreas da Amazônia para produtores do centro-sul do país para a transformarem em pasto. Em contrapartida, o Estado abria estradas cujos efeitos são sentidos até hoje. 

O resultado dessa política do “integrar para não entregar” e da “terra sem homem para homens sem-terra” foi a expulsão de milhares de famílias que moravam no interior da floresta para formar grotões de miséria nas periferias das cidades, além de criar confrontos pela posse da terra que resultaram em dezenas, centenas, de assassinatos. 

É essa mesma política destruidora que agora ganha corpo no Brasil, passados 30 anos do fim da ditadura militar - e com o retorno dos militares ao poder. Enquanto um capitão com a faixa presidencial abre a porteira para a boiada passar, um general no cargo de vice tenta (sem sucesso) proteger a Amazônia de seu próprio governo. 

Como os dados atestam, nesta disputa o general está sem muito poder de fogo diante de um capitão que não está nem um pouco preocupado em proteger a maior riqueza natural brasileira da qual os militares tanto dizem se orgulhar: a Amazônia Os militares precisam entender que os maiores inimigos da Amazônia não estão fora, mas dentro do próprio quintal. 

Ao que tudo indica, se a devastação continuar no ritmo que está, nem mais uma floresta as Forças Armadas terão para defender da “cobiça internacional”. Os próprios militares podem entrar para a história como os principais responsáveis pela perda da Floresta Amazônica por meio de políticas desastrosas quando governavam o país nos anos de chumbo e agora nesta nossa cambaleante democracia.    


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