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quinta-feira, 26 de março de 2020

Análise:

Gladson faz aniversário e dá um presente de grego para o povo 

Nesta quinta-feira, 26 de março, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), faz aniversário, completando 42 anos de idade. Como presente ao povo acreano, em meio à pandemia do novo coronavírus, o aniversariante assinou o Decreto 5.603 flexibilizando as regras de isolamento e distanciamento social, que são as principais recomendações das autoridades sanitárias mundiais para reduzir a quantidade de pessoas contaminadas. 

No dia 20 de março, Cameli fez publicar o Decreto 5.496 que impôs uma quarentena tolerância zero para o funcionamento do comércio no Acre, deixando aberto apenas os serviços essenciais como supermercados, farmácias e postos de combustível. Pelo decreto, estabelecimentos que não estivessem neste perfil ficariam numa quarentena de 15 dias, com as portas fechadas. Esta foi a medida adotada por todos os governadores.

Aqui no Acre, contudo, ela não sobreviveu a uma semana. Por conta da pressão do empresariado, Gladson Cameli se viu obrigado a abrir uma brecha (ou uma porteira) para outros setores da economia. Entre os novos estabelecimentos que estão autorizados a funcionar estão as lojas de produtos agropecuários, concessionárias de veículos, óticas, motéis , hotéis, casas lotéricas e bancos.

Nesta altura do campeonato não se sabe quem está interessado em comprar um carro zero quilômetro, quando a busca de todosé não ser contaminado pelo coronavírus. Esta concessão talvez se explique pelo fato de o presidente da Federação do Comércio do Acre, Leandro Domingos, ser dono de umas das principais revendedoras de carros de Rio Branco.
 
Em entrevista recente à TV Acre (Rede Globo) Domingos afirmou que ‘vão morrer mais empresas do que pessoas' na crise da Covid-19. Esta semana empresários fizeram uma pressão junto ao governo para flexibilizar o decreto da quarentena, e o governador os presenteou com o decreto.

Da assinatura da primeira medida de restrição para a abertura do comércio até esta quinta, o Acre saiu de 11 para 23 casos confirmados da Covid-19. O estado tem o segundo maior número na região Norte do país, atrás apenas do Amazonas. Os números chamam a atenção por o Acre ter uma das menores densidades populacionais do país. O Acre está entre os 10 estados com mais casos da doença confirmados essa semana.

A medida ocorre após o próprio governador ter dado declarações de que não cederia às pressões do presidente Jair Bolsonaro para que os chefes dos Executivos estaduais fossem mais brandos com as regras de isolamento social. Cameli chegou a afirmar que sua prioridade seria salvar vidas, com a recuperação da economia vindo depois.

A flexibilização feita pelo governador acreano ocorre no momento em que especialistas afirmam que o Brasil está apenas no início do surto da Covid-19, e que o pior ainda está por vir.  Para amenizar a situação, seu secretário de Saúde, Alysson Bestene, recomendou o óbvio: ficar em casa e lavar bem as mãos.

O problema, caro secretário, é que com um presidente da República que diz em cadeia de rádio e TV para toda a nação que um vírus que já matou mais de 20 mil pessoas no mundo não passa de uma “gripezinha”, muitas pessoas compraram a ideia e relaxaram nos cuidados sugeridos pelas autoridades sanitárias.

Que entre os pedidos feitos por Gladson Cameli ao assoprar a velinha de seu bolo de aniversário nesta quinta esteja o de que as previsões mais pessimistas sobre o surto do coronavírus nas próximas semanas não aconteçam. Os efeitos, num estado pobre e com uma saúde pública deficiente como o Acre, seriam devastadores. 

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