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segunda-feira, 30 de março de 2020

A ideologia do coronavírus

O governador do Acre, Gladson Cameli (PP), tem se queixado com frequência do que ele classifica como politicagem que está ocorrendo em torno do coronavírus no estado. A crítica é mais do que pertinente. De fato o momento exige deixar todas as desavenças partidárias-ideológicas de lado para, unidos, enfrentarmos uma situação que – queira Deus não – caminha para ser catastrófica num estado pobre e carente como o Acre.

Mas vamos aos fatos, senhor governador, que tem conduzido de forma acertada as ações do Estado para conter o coronavírus, apesar de ter cedido a pressões de setores do empresariado. Se há alguém fazendo politicagem com a crise do coronavírus essas pessoas estão dentro de seu próprio governo, e o senhor sabe muito bem disso.

A oposição tem sido muito cordial com vossa excelência. Lógico que uma pequena parte dela (isolada) tenta usar a situação para atingir o Palácio Rio Branco, o que deve ser condenável. No mais, líderes partidários e parlamentares oposicionistas abriram mão do embate político para unir esforços na mitigação da pandemia por aqui. O problema maior parece estar no próprio quintal de Cameli.

Dias atrás a parentela do vice-governador, Major Rocha (PSDB), estava nas ruas de Rio Branco fazendo uma “adesivaço” contra o senador Sérgio Petecão (PSD) – aliado do governador e que muito pode ajuda-lo em Brasília enquanto primeiro-secretário do Senado Federal. O foco do clã Rocha está apenas nas eleições que talvez ocorram ou não este ano e nas de 2022. Aliás, o major da Polícia Militar parece ser a pessoa menos qualificada para lidar com situações de crise.

Desaparece quando a guerra entre as facções criminosas se acirra no estado, e agora na do coronavírus também tomou um chá de sumiço. Espero que esteja em alguma feira de armas para liquidar este vírus comunista. E eis aqui outro ponto: cargos comissionados nomeados por Gladson Cameli estão nas redes sociais espalhando a mentira de que quem trouxe o coronavírus para o Acre foram os petistas.

Isso tudo porque os primeiros casos notificados no estado terem surgido a partir de uma reunião de petistas em Capixaba. Ora, os dois primeiros registros da Covid-19 foram de pessoas que estiveram em compromissos fora do Acre, sobretudo em São Paulo, o epicentro da doença no Brasil.

Outra estratégia dos aliados do governador é espalhar que os 20 anos de governos petistas no Acre deixaram a Saúde pública um caos. Todos sabem que fui um dos jornalistas mais críticos ao petismo acreano desde que comecei na profissão, no fim do segundo mandato de Jorge Viana (1999-2006). Ter feito tal trabalho não me leva ao arrependimento, pois sigo os princípios de um jornalismo crítico e investigativo. Mesma postura que mantenho agora em relação ao governo do PP.

Mas aqui vale um ponto: a estrutura de Saúde deixada pelos governos do PT foi bem melhor do que aquela recebida por eles em 1999, após quatro anos do governo Orleir Cameli, tio de Gladson. E aqui não vou apontar o dedo para ninguém em respeito à memória do ex-governador já falecido e por este não ser o momento. Mas quem é acreano sabe como estavam nossos hospitais ao fim da década de 1990.

Lógico que a gestão petista na Saúde não foi a mais perfeita do mundo. Contudo, estamos falando de um estado em praticamente toda a população depende do SUS para suas necessidades médicas. Manter este sistema funcionando em perfeição é um desavio que ninguém ainda encontrou. Quem sabe agora com os gênios e paladinos da ética à frente do sistema possam oferecer ao povo do Acre uma saúde pública de primeiro mundo que foi prometida e não entregue pelo PT.

Os cargos comissionados, no afã de manter suas boquinhas no governo, acusam os petistas de malversação e corrupção na gestão da Saúde, o que resultou na deficiência atual do Acre em lidar com a Covid-19. Falam sem apresentar provas e esquecem que, em pouco mais de 14 meses no poder, já há denúncias de corrupção contra o governo, esta na área da Educação, com desvio da merenda escolar. Portanto, antes de apontar o dedo para os outros, olhem para o próprio umbigo.

Portanto, o governador Gladson Cameli está certíssimo em criticar a politicagem estúpida que fazem no trato desta pandemia, e precisa dar a ordem para seus aliados pararem de falar porcarias e espalhar fakes News pelas redes sociais. Elas poderiam ser usadas de uma forma bem melhor, como conscientizar as pessoas sobre a importância de manter o distanciamento social, reduzindo os efeitos catastróficos do novo coronavírus. Os exemplos que temos mundo afora não são nada bons.     

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