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terça-feira, 30 de julho de 2019

Sem floresta, sem dinheiro

Desmatamento em alta pode levar Acre a perder até € 30 milhões nos próximos anos 


As elevadas taxas de desmatamento registradas pelo Acre desde o ano passado podem levar o estado a perder até € 30 milhões (ou quase R$ 130 milhões) nos próximos três anos. O valor corresponde ao contrato firmado no fim de 2017, durante a Conferência do Clima da ONU, com os governos da Alemanha e do Reino Unido como compensação pelas metas de redução da destruição da floresta.

Entre 2012 e 2017 o Acre já tinha recebido € 25 milhões (R$ 105 milhões) por seu desmatamento ter ficado abaixo do teto estabelecido, que é de 434 km2 por ano.

Especialistas da área ambiental ouvidos pela reportagem avaliam ser quase certo o estado ultrapassar essa quantidade em 2019, e não receber os recursos europeus.  Também conhecido pela sigla REDD+, o repasse de dinheiro pelos países ricos aos em desenvolvimento é uma forma de compensá-los pela redução na emissão de gases do efeito estufa oriundos do desmatamento e das queimadas. 

De acordo com o último boletim do desmatamento elaborado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em junho do ano passado o Acre teve 10 km2 de floresta desmatada - o equivalente a 1.000 campos de futebol.  Agora, no último mês, 40 km2 de mata foram devastadas – um aumento de 300% na comparação dos períodos.

Entre os estados da Amazônia Legal, o Acre foi o único a registrar aumento na taxa nesta comparação.  A elevação ocorre também no cotejo anual. Entre agosto de 2017 e junho de 2018, 69 km2 de Floresta Amazônica foram perdidos no Acre; já entre agosto de 2018 e junho de 2019 a área destruída foi de 184 km2 - um aumento de 167%.

Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que ao longo de todo o ano passado foram desmatados 393 km2 de floresta no Acre. Este número alto ocorreu ainda durante uma gestão petista, que era vista como mais afinada com a questão ambiental e acusada de empenhar fiscalizações rigorosas no meio rural.

Agora, com o governo Gladson Cameli (Progressistas), que tem uma linha mais voltada para o agronegócio e pouca simpatia pela área ambiental, a tendência é o estado ultrapassar os 434 km2 estabelecidos pelo contrato com os europeus.

Para deixar a situação do Acre ainda mais delicada diante deste cenário, o governo alemão – por meio de seu banco de fomento KFW – estabeleceu uma linha mais conservadora para a tolerância ao desmatamento: 330 km2.

Além dos danos ambientais, o desmatamento descontrolado acarretará prejuízos também para o orçamento de um estado pobre como o Acre. E o impacto recairá, sobretudo, nas comunidades rurais, para onde devem ser destinados os recursos internacionais.

O objetivo do programa é oferecer mecanismos, alternativas e tecnologia para que essas famílias melhorem suas capacidades de produção, sem a necessidade de destruir novas áreas de floresta. Ao tratar com desdém a área ambiental, o governo Gladson Cameli coloca em risco todas as políticas de fortalecimento de uma agricultura familiar de base sustentável.     

A assessoria de imprensa do governo do Acre foi procurada para comentar o assunto, mas nenhuma posição oficial foi repassada até o momento.

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