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domingo, 21 de julho de 2019

Acre desmatado

Acre tem níveis recordes de desmatamento; governo propõe pacote para afrouxar regras ambientais 


O Acre registra desde o fim do ano passado crescimento recorde em suas taxas de desmatamento. O estado, que há até bem pouco tempo, ficava sempre nas últimas posições nos gráficos elaborados pelos institutos que monitoram o nível de destruição da Floresta Amazônica, passou a ocupar os primeiros lugares.

De acordo com o último boletim do desmatamento elaborado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o total de área de floresta nativa destruída em junho de 2019 cresceu 300% quando comparado com junho de 2018. Entre os estados da Amazônia Legal, o Acre foi o único a registrar aumento na taxa nesta comparação.

Em junho do ano passado, o Acre teve 10 km2 de floresta desmatada - o equivalente a 1.000 campos de futebol.  Agora, no último mês, 40 km2 de mata foram devastadas no estado, que ainda tem uma das maiores coberturas florestais do país; ou seja, 4.000 campos de futebol do que antes era floresta viraram áreas abertas.

A elevação ocorre também na comparação anual. Entre agosto de 2017 e junho de 2018, 69 km2 de Floresta Amazônica foram perdidos no Acre; já entre agosto de 2018 e junho último a área destruída foi de 184 km2 - um aumento de 167%.

A partir do mapa elaborado pelo Imazon, percebe-se que o desmatamento se espalha por quase todo o território do estado, até mesmo nas regiões de mais difícil acesso, onde a floresta está (ou estava) mais intacta. Anos atrás, as áreas desmatadas se concentravam mais na porção leste, que já é a mais impactada pelas atividades agropecuária e madeireira.

É nessa região onde está a Reserva Extrativista Chico Mendes, que em junho último perdeu 3 km2 de floresta. A unidade de conservação é uma das mais impactadas, pressionada, sobretudo, pelo avanço da pecuária. 

Todo este crescimento ocorre em meio aos discursos e práticas dos governos federal e estadual de desmonte das políticas ambientais e fortalecimento do setor rural. O governador do Acre, Gladson Cameli (PP), defende os investimentos no agronegócio como o carro-chefe para a economia local. Para ele, o Acre deve seguir os passos de Rondônia para “destravar” sua economia.

Rondônia é um dos estados com a menor cobertura florestal da região, com o agronegócio avançando sobre as últimas áreas de floresta, que estão em unidades de conservação ou terras indígenas.

Entre as principais medidas adotadas por Cameli está afrouxar as regras ambientais para o setor rural. O governo já tem pronto um projeto de lei que flexibiliza a legislação estadual. A perspectiva é que ela seja enviada para aprovação após o recesso da Assembleia Legislativa.

Porém, outras medidas práticas já vêm sendo adotadas. Uma delas foi acelerar os processos para emissão das licenças ambientais, com destaque para as do setor rural e madeireiro.

Diante de tais práticas e com os discursos do próprio governador - que não demonstra lá muita simpatia pela questão de preservação da floresta acreana - a tendência, daqui para a frente, é de o Acre aumentar ainda mais seus níveis de desmatamento.   

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