Páginas

sábado, 8 de maio de 2021

direitos iguais

Acre e Rondônia vão imunizar indígenas não-aldeados


Agente de Saúde Indígena prepara imunizante para vacinação em aldeias do Alto Purus (Foto: Odair Leal/Secom)


As Justiças Federais no Acre e em Rondônia decidiram que os indígenas não-aldeados da Amazônia têm de ser vacinados. Agora, qualquer indígena maior de 18 anos e morador de uma cidade acreana ou rondoniense tem o direito de receber as duas doses da vacina. Duas ações civis públicas movidas pelos Ministérios Público Federal (MPF) foram favoráveis a incluí-los na fase um do grupo prioritário do Plano Nacional de Imunização contra Covid-19, ao contrário das intenções dos governos federal e estadual.

“As famílias que estão na cidade estão em trânsito. Muitos estão estudando, trabalhando ou visitando os parentes que moram nas cidades. E quem está em trânsito fica de fora de qualquer prioridade da saúde indígena, seja da vacinação como qualquer outro atendimento”, explica o líder indígena Ninawa Huni Kuin.

Presidente da Federação do Povo Huni Kuin do Acre, Ninawa comemora a “vitória” conquistada na Justiça, já que isso pode acabar com o jogo de empurra-empurra. “A prefeitura não se responsabiliza porque tem a Sesai e a Sesai só vacina quem está na aldeia. Então, quem está na cidade fica sempre sem assistência”, diz ele, referindo-se à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculado ao Ministério da Saúde.

Desde o início da campanha de vacinação, as autoridades responsáveis pela atenção à saúde indígena têm repetido que somentes indígenas que moram terras demarcadas podem ser incluídos nos grupos prioritários. Os que moram em contexto urbano ou em territórios não reconhecidos pelo governo federal, foram excluídos, mesmo que eles estejam apenas em trânsito nas sedes dos municípios.

Os Kaxinawá (autodenominados Huni Kuin) têm a maior população entre os 16 povos indígenas do Acre. Eles representam quase 16 mil dos 24 mil indígenas do estado e estão em maior número nas cidades, seja no interior ou na capital. Apenas na capital Rio Branco estima-se que vivam 780 Huni Kuin. Agora, com a imunização dos indígenas não-aldeados, eles poderão voltar para as aldeias onde moram ou visitam os parentes, segundo Ninawa Huni Kuin.

Acre (com 10,82% de sua população imunizada) e Rondônia (11,14%) estão entre os estados de menores índices de vacinação do País, ao lado de Roraima (10,81%), o pior no ranking nacional, e do Amapá (10,89%), todos pertencentes à região Norte. A estimativa da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) é vacinar 408.232 indígenas contra a Covid-19. Até o momento, 587 mil doses foram aplicadas, sendo 319 referentes à primeira aplicação do imunizante. 

O Ministério da Saúde enviou 24 mil doses da CoronaVac, ainda em janeiro, para imunizar os aldeados do Acre, mas só aplicou cerca de 10 mil doses. O governo do Acre, em vez de destinar essa “sobra” para os indígenas que vivem nos aglomerados urbanos dos 22 municípios, decidiu imunizar os profissionais da segurança pública.

Além das dificuldades de logística para chegar aos locais mais distantes, a baixa vacinação se explica pela disseminação de desinformação sobre eventuais efeitos adversos da vacina e a influência de líderes evangélicos que são contra a vacinação.

A situação se agravou após a morte da liderança Fernando Katukina, cacique-geral do povo Noke Koi (também chamados de Katukina). Ele foi o primeiro indígena do Vale do Juruá a receber a CoronaVac. Dias depois, Fernando morreu vítima de uma parada cardíaca. Uma notícia falsa logo começou a circular, atribuindo a morte à vacina.


Leia a reportagem completa na Amazônia Real 

Nenhum comentário:

Postar um comentário