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segunda-feira, 1 de junho de 2020

O vírus e os povos da floresta

Acre tem primeira morte por Covid-19 confirmada entre seus povos indígenas



No estado ainda há duas mortes suspeitas pela doença de indios moradores das cidades, os mais expostos à infecção; uma no povo Kaxinawá e outra nos Jaminawa 




O Acre registrou, na madrugada deste domingo, 31, a primeira morte causada pela Covid-19 entre sua população indígena. A vítima é Nascimento Jorge Arara, do povo  Shawãdawa, que morava em Cruzeiro do Sul e trabalhava para o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Alto Juruá. Ele estava internado desde o último dia 17 de maio na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI( do Hospital do Juruá, unidade referência para tratar os casos mais graves da doença no Vale do Juruá.  A informação foi confirmada pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

Jorge tinha 61 anos e um histórico de doenças que o colocava no grupo de risco. No começo do ano ele chegou a contrair dengue e malária, sendo esta última bastante comum entre as comunidades rurais do Juruá. Além disso, Jorge precisou fazer uma cirurgia este ano para retirar um tumor encontrado no pescoço. Por conta deste histórico, ele estava afastado de suas funções no Dsei Alto Juruá.

A suspeita é que ele tenha contraído o vírus durante a ida a uma agência bancária de Cruzeiro do Sul para sacar dinheiro. Foi após isso que Jorge Arara apresentou sintomas de gripe, evoluindo de forma rápida nos dias seguintes. Ele deu entrada no Hospital do Juruá em 15 de maio apresentando febre e fortes dores no tórax. Ao se fazer o teste rápido não foi detectado o vírus.

Contudo, o quadro clínico dele se agravou e foi necessário interná-lo na UTI, ficando lá por quase 15 dias. Neste domingo, ele não resistiu e morreu. A morte dele ocorre em meio ao aumento no número de casos da Covid-19 entre a população indígena do Acre, sobretudo daqueles que vivem nas cidades.

No último sábado, 30, o Ministério Público Federal emitiu recomendação para que as prefeituras de Santa Rosa do Purus e Manoel Urbano prestem atendimento aos indígenas que apresentem sintomas da Covid-19, independente de serem moradores da cidade. Os que chegam das aldeias também devem receber a devida assistência, recomendou o MPF.

Santa Rosa do Purus é o município com maior número de índios infectados, a maioria do povo Huni Kuin (Kaxinawá). De acordo com informações de relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), há 11 casos confirmados da doença entre os Huni Kuin moradores da cidade, e outros cinco dentro da Terra Indígena Alto Purus, sendo quatro do povo Huni Kuin e um Madjá (Kulina). No Acre há duas mortes suspeitas uma de um Huni Kuin em Santa Rosa e a outra de um Jaminawa em Brasileia.

Também há casos suspeitos da Covid-19 dentro da TI Jaminawa-Arara do rio Bajé. Na semana passada, quatro deles foram testados positivos após irem fazer exames na unidade de saúde de Marechal Thaumaturgo. O Dsei Alto Juruá enviou equipe com médico e enfermeiro para acompanhar a situação.


Em defesa do povo Arara

A Comissão Pró Índio (CPI) do Acre emitiu nota lamentando a morte de Nascimento Jorge Arara. A entidade lembrou que ele foi uma das lideranças, ainda na década de 1980, no movimento de luta para a criação da Terra Indígena Arara do Igarapé Humaitá, localizada em Porto Walter, região originária do povo Shawãdawa.

Jorge integrou a primeira turma de Agente Indígena de Saúde (AIS), dentro do Projeto de Saúde, da CPI Acre. Desde então ele passou a atuar no atendimento às comunidades indígenas do Vale do Juruá. 



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