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quarta-feira, 3 de junho de 2020

Desmatamento real

Em 2019, a Amazônia teve desmatado quase 90 campos de futebol por hora


Acre chama a atenção por ter o segundo maior número de alertas de desmatamento, enquanto a Resex Chico Mendes ocupa a primeira posição entre todas as áreas protegidas do país.



Área derrubada dentro da Resex Chico Mendes; em 2019, desmate na unidade aumentou 200% ante 2018 (Foto: SOS Amazônia)



Que a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto no início do ano passado representou uma tragédia para a proteção da Amazônia, isso todo o planeta assistiu ao vivo e a cores. Imagens de grandes áreas de floresta desmatadas e depois incendiadas rodaram o mundo. Convictos de que tinham carta-branca assinada pelo presidente da República, criminosos ambientais não fizeram cerimônia de invadir nem mesmo terras públicas, como territórios indígenas e unidades de conservação.

Toda essa agressão sofrida pela Amazônia ao longo de 2019 saiu das fotografias e vídeos para os gráficos e números obtidos a partir das análises de dados das principais fontes nacionais e internacionais de estudos do desmatamento. Para se ter uma noção, a maior floresta tropical do mundo viu ser derrubada, por hora, uma área de 87,92 hectares; ou seja, a cada 60 minutos o equivalente a quase 90 campos de futebol foram destruídos no bioma em 2019.

Por dia, a devastação chegou a 2.110 hectares, somando, ao longo dos 12 meses, 770.148 hectares de desmatamento, o que representa 62,3% do total detectado em todo o país. No primeiro ano de Jair Bolsonaro no governo, o mais importante bioma brasileiro viu desaparecer uma área de floresta quase do tamanho de Rio Branco, a capital do Acre. 

A velocidade média de desmatamento na Amazônia foi de 0.17. Esta velocidade é calculada a partir da divisão da área desmatada pelo número de dias decorridos entre as imagens de antes e após o desmatamento. Estes dados, porém, são subestimados por as imagens de satélite sofrerem algum tipo de interferência das nuvens.

Todas estas informações estão no primeiro Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, divulgado na semana passada pelo MapBiomas Alerta, que reúne pesquisadores de entidades de pesquisas e empresas de tecnologias. Sua tarefa é analisar e refinar os dados de desmatamento levantados por instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.

Um dado que chama a atenção no relatório é o aumento do desmatamento no Acre no primeiro ano de Gladson Cameli (PP) à frente do governo estadual. Este incremento pode ser reflexo da política do governador de privilegiar o agronegócio como carro-chefe da economia local, fragilizando a estrutura de fiscalização ambiental. Ele chegou a defender, no começo de 2019, que produtores rurais autuados pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) não pagassem as multas.

Reflexo disso foi o Acre superar estados como Mato Grosso, Rondônia e Amazonas na quantidade de alertas de desmatamento emitidos pelo sistema Deter/Inpe; o estado só ficou atrás do Pará. Ao todo foram 9.302 alertas disparados, somando uma área desmatada de 57.891 hectares. Pará, Acre, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso responderam, juntos, por 66% do desmatamento na Amazônia Legal.

O Acre teve outro dado negativo: entre todas as 1.453 unidades de conservação do Brasil, a Reserva Extrativista Chico Mendes foi a que teve o maior número de alertas de desmatamento registrado: 1.197. Em termos de área, foram 6.997 hectares de Floresta Amazônica devastados para serem transformados em pasto para o gado.  Em 2019, a Rese  Chico Mendes apresentou crescimento recorde de=o desmatamento de 200%, na comparação com 2018.

Este impulso no nível de destruição da unidade de proteção idealizada pelo líder seringueiro Chico Mendes ocorre em meio a ofensivas de políticos locais para reduzir seu tamanho, e do governo Gladson Cameli não pagar o subsídio da borracha, o que faz os moradores abandonarem o extrativismo de vez, tendo a pecuária como atividade econômica principal.

Todo este crescimento de destruição da Amazônia em 2019 ocorreu tanto com a conivência do presidente da República quanto dos governadores locais. O estado do Acre é um bom exemplo disso. E ao que tudo indica, até aqui, 2020 tende a ser um ano tão crítico para a questão ambiental da região, agravada pela crise de saúde ocasionada pelo coronavírus.       


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