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sexta-feira, 15 de maio de 2020

Vírus e fumaça na Amazônia

O vírus bolsonarista ameaça a Amazônia 

 

Área de floresta incendiada em 2019, no interior do Acre (Foto: Sérgio Vale)

 
O Brasil passa hoje por uma das piores crises dos últimos anos. Aliás, quando não estamos mergulhados em uma crise? Essa, porém, é, sim, uma das mais graves, pois lida diretamente com a vida. Milhares de brasileiros estão morrendo por conta da pandemia do coronavírus. Uma situação que afeta todos os países do mundo em menor ou maior grau, agravada aqui por um presidente tresloucado e que tenta boicotar - a todo instante-  as medidas sanitárias de contenção da doença.

Para ele, a prioridade deve ser salvar a economia e, consequentemente, sua reeleição em 2022. Não importa se vão morrer cinco ou vinte mil pessoas. Questionado sobre as mortes, sua resposta é o trágico “e daí?”.  Se Jair Bolsonaro demonstra não ter o mínimo apreço pelas vidas de seus cidadãos, o que dirá da preservação ambiental. 

Muito em breve o Brasil tende a entrar em uma outra crise, desta vez a ambiental (se bem que acredito nunca termos saído dela desde primeiro de janeiro de 2019). Mais algumas semanas teremos, com mais intensidade, o período de estiagem na Amazônia. Maio é o mês de transição do “inverno amazônico” para o verão amazônico”, ao menos na parte mais sul da Amazônia abrangendo Acre, Rondônia, sul do Amazonas e Pará e o norte do Mato Grosso. O pico da seca (e queimadas) é entre agosto e setembro.

A situação é preocupante diante do cenário de 2019 quando - incentivados pelos discursos e práticas do governo Jair Bolsonaro - criminosos ambientais agiram a torto e a direito destruindo a floresta, grilando terras públicas, invadindo terras indígenas e unidades de conservação, fazendo uma verdadeira mata a dentro - e isso para todo o planeta assistir horrorizado.

O país já sabia que o governo Jair Bolsonaro seria trágico para a área ambiental. Seus discursos de campanha em 2018 sinalizavam para o desmonte das políticas ambientais - o que de fato ocorreu. O primeiro passo foi escolher um ministro do Meio Ambiente cuja tarefa é desestruturar a já precária estrutura dos órgãos de fiscalização ambiental, praticamente destruindo o Ibama e o ICMBio.

Agora militarizado, o Instituto Chico Mendes teve sua estrutura ainda mais reduzida. As unidades de conservação que já vinham sendo invadidas e incendiadas por desmatadores, estarão mais expostas com a completa fragilidade nas ações de fiscalização e proteção. A desmatada Reserva Chico Mendes, no Acre, por exemplo, será “gerenciada” desde a chefia do ICMBio para o Norte em Santarém, no Pará, distante milhares de quilômetros daqui.

As estruturas dos órgãos ambientais também ficarão comprometidas com a crise do coronavírus, que obriga o governo a centralizar recursos na Saúde. Isso num governo que já vinha passando a tesoura no orçamento de todos as áreas da administração, seguindo a ordem de austeridade imposta por Paulo Guedes e o mercado financeiro.

A crise do coronavírus elevou o alerta de preocupação com a Amazônia em 2020, fazendo especialistas avaliarem que a situação tende a ser pior do que no ano passado. Para mostrar certa ação diante do mundo e não afetar os interesses do grande agronegócio, o governo já adota medidas para que o Brasil não ganhe o noticiário internacional com as imagens da floresta em chamas, o que levaria importantes mercados mundo afora a deixar de comprar a carne e soja brasileiras. 

Como de costume do governo Bolsonaro, a primeira atitude para não termos um replay de 2019 foi acionar as Forças Armadas para, novamente, atuar na “proteção da Amazônia” por meio de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem).

Bolsonaro acredita que a entrada do Exército no ano passado nas ações de combate aos crimes ambientais na região foi o motivo para a queda no número de queimadas. Os militares, porém, entraram em campo quando as primeiras chuvas do “inverno amazônico” davam o ar da graça.

É certo que na Amazônia o Exército é a instituição de Estado com melhores condições de atuar pelo seu efetivo e estrutura logística para se mover numa região de precária infraestrutura. E a ação de soldados usando um fuzil Parafal também deixa os delinquentes ambientais um pouco mais intimidados, impedindo-os de agredirem e matarem fiscais do Ibama e ICMBio.

O fato é que, diante de todas as práticas do atual governo de desmonte da política ambiental, não tem “soldado universal” que salve a Amazônia da catástrofe. Além dessa fragilização, o governo Jair Bolsonaro fomenta atos criminosos, legalizando o que é ilegal, fazendo valer a velha máxima de que o “crime compensa”. Isso numa região em que, muitas das vezes, o que vale é a lei do mais forte, a lei da bala.

Exemplo disso é a chamada “MP da Grilagem”, que legaliza a posse de terras da União invadidas por grileiros e latifundiários; É o Estado tornando legal práticas criminosas feitas contra si próprio. São uma série de afrontas usando instrumentos legais (como uma Medida Provisória) para incentivar o crime.

Enquanto isso, as populações tradicionais da floresta veem seus territórios sendo invadidos por delinquentes crentes de que não sofrerão nenhuma punição. Dessa forma, a maior floresta tropical do mundo vai perdendo mais e mais áreas naturais, transformadas em campos para o gado e a soja.

E nós, aqui nos cantos mais esquecidos e abandonados deste país, vamos sofrendo com as consequências de um presidente insano. Logo o fogaréu na Amazônia vai começar. Além de precisarmos proteger nossos pulmões de um vírus mortal, teremos que resguardá-lo da fumaça, do ar poluído em meio a uma temperatura alta e umidade baixa. Cenários propícios para se desenvolver doenças respiratórios em meio a uma pandemia do coronavírus.

Tomara que todos estes prognósticos apocalípticos não passem disso: um prognóstico. Que possamos, muito em breve, acordar deste pesadelo e quem sabe, um dia, a Amazônia saia do noticiário policial. Enquanto sociedade estaremos aqui de olho em cada movimento; lutando para sobreviver ao coronavírus, e denunciando o que de ilegal e criminoso for praticado contra a floresta e sua população.


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