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sábado, 9 de maio de 2020

Ameaça concreta

Acre tem primeiro caso da Covid-19 entre população indígena



Santa Rosa do Purus, município com elevada população indígena Huni Kuin, fica às margens do rio Purus (Foto: Gleilson Mirada/Governo do Acre)


@fabiospontes

Em meio ao salto no número de casos da Covid-19 no Acre nos últimos dias, a doença também atinge os povos indígenas do estado. O primeiro contágio confirmado é de um Huni Kuin de 25 anos morador de Santa Rosa do Purus, um dos quatro municípios acreanos isolados, cujo acesso só é possível via fluvial ou aérea.

A confirmação do caso foi feita pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre) em seu boletim diário. Procurada, a coordenadora do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Alto Rio Purus, Carla Mioto Niciani, não respondeu aos questionamentos da reportagem até o momento.

Com uma das maiores populações indígenas do Acre - sendo parte dela moradora do centro urbano - Santa Rosa do Purus é banhada pelo rio Purus, um dos mais importantes da Bacia Amazônica. Os Huni Kuin (também conhecidos como Kaxinawá) formam a maioria da população indígena do município, localizado na fronteira com o Peru.

Segundo informações do portal G1 Acre, o indígena teria se contaminado com o novo coronavírus em Rio Branco. A capital é o epicentro da doença no estado. Ele morava na capital desde o início do ano onde pretendia obter formação em técnico de enfermagem. Às vésperas de fazer a matrícula, foram iniciadas as medidas oficiais de distanciamento social.

O indígena voltou na última quarta-feira, 6, para Santa Rosa em um voo de uma empresa de táxi-aéreo, com outros nove passageiros. Na quinta, fez o teste rápido e deu positivo. Todos os demais passageiros e pilotos foram colocados em isolamento. O Huni Kuin mora no perímetro urbano do município, não em aldeias.

Segundo a Secretaria de Saúde, o indígena é um infectado assintomático, ou seja, que não desenvolveu os sintomas da Covid-19. Os seus familiares também não apresentam sintomas, e estão em observação.  

Segundo levantamento do Instituto Socioambiental (ISA) sobre o impacto do novo coronavírus na população indígena do Brasil, o Dsei Alto Rio Purus teve quatro casos já descartados da Covid-19. O outro Dsei que atende o estado, o do Alto Rio Juruá, não teve nenhum. Entre indigenistas e lideranças indígenas locais há uma grande queixa quanto à atuação do Dsei Alto Purus.

Um dos casos mostrados pelo blog é o dos Jaminawa de Sena Madureira, que, sem assistência, precisaram voltar às pressas para suas aldeias antes de alguém ser infectado. Informações dão conta de que a situação de abandono da população continua a mesma.

O atendimento da saúde indígena no Acre é de responsabilidade destes dois distritos: o do Alto Rio Purus e o do Alto Rio Juruá. A principal preocupação na região da Bacia do Juruá é com os Katukina, cuja terra indígena - a Campinas Katukina - é cortada ao meio por 18 km da BR-364. A proximidade com Cruzeiro do Sul leva muitos indígenas a insistir em estar pela cidade, ficando expostos ao coronavírus. A cidade já tem 46 casos confirmados da doença.

Enquanto isso, outras comunidades indígenas vão reforçando suas medidas de isolamento social, como os Yawanawa da TI do Rio Gregório e os Ashaninka do rio Amônia. Essa semana os Yawanawa eles construíram uma cerca sobre o rio impedindo a entrada e saída de pessoas. A ordem das lideranças é para se evitar ao máximo o contato com o meio urbano.

A medida se faz necessária diante do alto risco de letalidade do vírus caso se prolifere nas comunidades indígenas, que sofrem com a falta de assistência médica por parte do governo federal. Os dados do ISA apontam que, até o momento, 15 índios já morreram vítimas da Covid-19 no país. Já os casos confirmados são de 206, sendo a maioria no Amazonas, um dos estados mais impactados pela pandemia.

O Dsei do Alto Rio Solimões tem 100 confirmações da doença, com nove mortes. Os dois outros Dseis com mais casos são os de Manaus (25) e  Parintins (20), também do Amazonas.  

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