Esta atual crise da segurança pública não é um simples retrato de que o Estado tenha falhado nas políticas do setor. Muito pelo contrário. Nunca antes na história as forças policiais tiveram tantas condições de atuar. O Acre investe mais em segurança do que Estados ricos como São Paulo ou Distrito Federal, como mostra o mais recente dado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Segundo o IBGE, temos uma das melhores proporções no País de policiais militares por habitante. Então onde está a falha para explicar esta crise? A resposta é simples: a problemática do Acre não é somente de repressão policial, mas vai bem além: trata-se de uma questão social e econômica.
O Acre é um Estado pobre, sem geração de riquezas, com uma iniciativa privada incipiente e altamente dependente da economia estatal, já que o poder de compra de uma população pobre é baixíssimo. Não houve nos últimos anos políticas sérias para o real desenvolvimento sustentável do Acre – e aqui a sustentabilidade não é só do ponto de vista da preservação ambiental.
Sustentável no sentido de ser progressivo, duradouro e capaz de gerar riqueza e oportunidades a quem mais necessita. O que se viu muito foi o aperfeiçoamento da máquina estatal, um aparelhamento da coisa pública que agora mergulha a sociedade num bolsão de miséria.
O Acre se endividou com a promessa de investir milhões em empreendimentos econômicos, mas a maioria não deu certo (vide a falida fábrica de tacos, em Xapuri).
O resultado disso tudo está aí à vista: quase metade da população depende da assistência do Estado por meio de programas de transferência de renda (Bolsa Família), a educação pública não leva o cidadão a sua formação crítica e à conquista de sua autonomia, nossos presídios estão superlotados e as facções criminosas agora ditam as regras no Acre.
Enquanto o governo não é capaz de colocar em prática políticas econômicas viáveis, o tráfico de drogas –com seu lucro rápido e farto – ganha território entre uma população jovem desempregada e sem perspectiva. A comprovação disso é a faixa etária da população carcerária do Acre; mais de 60% têm entre 18 e 29 anos, sendo a condenação por tráfico a predominante.
É óbvio que o Estado precisa, neste momento, responder com o uso da força, a repressão. O Estado precisa dizer quem manda na área é ele. Após reconquistar seu território, será papel do governo repensar seriamente suas políticas sociais e econômicas, deixando de lado o imediatismo e a mídia. O debate precisa ser aberto em todos os segmentos; nos partidos, na academia, nos sindicatos e na imprensa.
O que não pode é tudo continuar como agora. Mais alguns dias a sensação de segurança será retomada, mas logo PCC e outras facções voltarão a aterrorizar, e ficaremos neste nosso enxugar gelo. O Acre precisa mudar sua atual trajetória rumo a uma falência social. Se assim não proceder, os resultados serão catastróficos para a sociedade muito em breve.
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