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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Histórico insustentável

O investimento público-privado realizado pelo Acre em mais um empreendimento para a viabilização industrial do manejo madeireiro sustentável tem sido motivo de polêmica –muito mais pela sua viabilidade econômica do que pela questão ambiental. O governo volta a conceder incentivos fiscais (e em tempos de crise financeira) para tentar alavancar um segmento da economia que até o momento não conseguiu se viabilizar, isso mesmo em um Estado com quase 90% de cobertura florestal.

Para atrair o grupo de investidores europeus da Agrocortex, o Acre abriu mão de R$ 135 milhões de sua principal fonte de arrecadação: o ICMS. A iniciativa é louvável e necessária para um Estado pobre e com raríssimos investimentos deste porte. Sobretudo quando a área beneficiada é o paupérrimo município de Manoel Urbano, que apresenta um dos piores índices de desenvolvimento social e econômico do país.

Mas diante do retrospecto dos investimentos na indústria do manejo florestal no Acre, fica a dúvida sobre a sustentabilidade comercial do negócio. Os exemplos do fracasso desta política saltam aos olhos. A mais evidente é a fábrica de tacos em Xapuri. Construída no governo Jorge Viana (1999-2006), a fábrica tinha como missão tornar o Acre uma potência do Norte no manejo da madeira, bem como seu beneficiamento e exportação.

Passados quase dez anos de sua inauguração, a fábrica é o símbolo do fiasco às margens da BR-317 –um elefante branco na terra de Chico Mendes. Outros empreendimentos (e estes privados) do mesmo ramo passam por sérias dificuldades. A informação é de que a Triunfo –símbolo da economia verde do governo Jorge Viana – opera com capacidade reduzida.

Portanto, saber se a Agrocortex se sustentará em um Estado já com histórico de falência do setor é muito incerto. A torcida é para que, sim, tudo funcione e garanta desenvolvimento para Manoel Urbano e o Acre. Em toda a região Norte o manejo florestal para fins industriais tem se mostrado viável. Estados como Amazonas, Pará e Rondônia investem pesado no ramo –e tem dado certo.

O problema no Acre é a ingerência estatal em todo e qualquer empreendimento econômico. A vocação do Palácio Rio Branco de interferir até na padaria do seu Zé tem deixado o Acre eternamente refém da economia do contracheque, o que garante aos governantes a vantajosa zona de poder para influenciar eleições, e assegurar reeleições.

Se o governo não meter demais o nariz onde não é chamado e muito menos bem-vindo, a Agrocortex pode dar certo. Mas se assim não for, terá o mesmo destino da fábrica de tacos, sendo um gigante fantasma mal-assombrado às margens de uma rodovia. A diferença da empresa é que está instalada às margens do rio Purus -e para nossa sorte Euclides da Cunha navegou pela região mais de cem anos atrás.  

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