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quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

opinião

Governo Cameli: sobram muitos escândalos, falta bastante competência

 

Desde que Gladson de Lima Cameli assumiu o governo do Acre, em janeiro de 2019, apresento-me como um crítico a este mandato, como o fui aos governos do PT. Aliás, aqui por essas bandas do Aquiry sou uma das raras vozes críticas a ele. Este posicionamento se deu por conta da atuação orquestrada do novo governo que se iniciava de destruir a política de proteção ao meio ambiente e aos povos indígenas. A consequência está aí: índices recordes de devastação da Floresta Amazônica dentro do Acre.


Amparados pela certeza da impunidade, criminosos ambientais se sentiram à vontade para invadir terras públicas e praticar a grilagem. Afinal de contas, em apenas três meses à frente do cargo, o governador tinha desmoralizado o órgão de proteção ambiental do estado - o Imac - dizendo que ninguém precisava mais pagar multas ambientais. Como já escrevi aqui, Gladson Cameli inspirou Ricardo Salles por ter deixado a boiada passar bem antes da repugnante fala do ex-ministro do Meio Ambiente.     

Logo depois, o político do PP foi se mostrando um verdadeiro desastre nas articulações políticas. Não foi capaz nem mesmo de manter a unidade da ampla aliança partidária que o elegeu em 2018. Tanto assim, que as principais ameaças ao seu projeto de reeleição vêm de seu ex-grupo político. Aqueles que estão ao seu lado são muito mais pela conveniência de estar acomodados em fartos cargos comissionados, do que pela beleza dos olhos ou dos passinhos de dançarino do governador.  

Sem capacidade de fazer articulações políticas, Gladson Cameli mostrou-se ainda pior na condução da administração pública. Passados três anos, não sabemos qual o projeto (nem se há algum) desta atual gestão para a educação, a saúde, a segurança, a infraestrutura e assim vai. É um governo espatifado, sem capacidade técnica. Não há institucionalidade. É uma balbúrdia só. Gladson Cameli não assumiu as rédeas da coisa, preferindo transferir responsabilidades - o que lhe é bem comum nestes seus 15 anos de vida na política.

Seu grande mote na campanha de 2018 era fazer do agronegócio o carro-chefe da economia acreana. Para ele, bastava deixar a boiada passar no meio ambiente para o setor rural deslanchar. Gladson Cameli não só contribui para a destruição da Amazônia, como também não favoreceu a economia do campo. Basta ver o abandono em que se encontram nossos ramais. As mulheres e homens do campo estão desamparados.

Qual foi a política de fomento para a agricultura familiar? Qual estratégia ou parceria o governo firmou com os bancos para facilitar o acesso ao crédito rural? Qual a política de assistência técnica rural foi ou é executada? Nestes três anos, qual o fomento a setores como a bacia leiteira, a produção de ovos, a distribuição de sementes?

Em três anos, foram três secretários de Agronegócio e Produção. A politicagem sempre prevaleceu para a escolha dos secretários e secretárias de Cameli, em detrimento das suas capacidades técnicas. Como costumo dizer desde 2019, falta gestão e sobra muita bagunça, desorganização, falta de planejamento. É um governo que vive de futricas, picuinhas. Por isso também costumo dizer que no Acre não temos um governo, mas um desgoverno.

Agora, em dezembro de 2021, fomos surpreendidos com a operação Ptolomeu, da Polícia Federal, revelando aquele que pode ser definido como o maior escândalo de corrupção da História recente do Acre. Quer dizer, não fomos tão surpreendidos assim, pois sabemos que uma hora ou outra a bomba ia explodir. Desde 2019 pairam dúvidas sobre a capacidade do desgoverno Gladson Cameli de combater a corrupção.

Desde o começo havia suspeitas. Seus apoiadores dizem que agora é diferente, pois o próprio governador coloca a Polícia Civil para investigar e levar para a Justiça os possíveis casos de corrupção dentro da grande estrutura do governo. Todavia, a Ptolomeu mostrou que a corrupção não ocorre só nos porões, mas no andar de cima do Palácio Rio Branco - tanto assim que agentes federais fizeram uma varredura no gabinete de Cameli dentro da sede do Executivo.

Passei quase três semanas lendo e relendo o inquérito da operação Ptolomeu. Após ler um parágrafo, voltava ao começo pra saber se não tinha entendido errado. Puxava uma coisa com a outra. O que está ali é estarrecedor. Não são provas amadoras, mas levantadas a partir de relatórios de inteligência elaborados por órgãos de credibilidade como o Coaf, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Tanto assim, as provas foram aceitas pelo Superior Tribunal de Justiça para deflagrar a operação Ptolomeu.

A minha conclusão após a leitura de toda a papelada em PDF é a de que, em três anos de desgoverno Gladson Cameli, faltou muita competência técnica, gestão administrativa e um correto espírito republicano para a gestão pública. Em contrapartida, sobram muitas mutretas e escândalos de corrupção que precisam ser profundamente investigados.

É por essa razão que o Acre se encontra na atual situação: no fundo do poço. A Saúde pública está um caos; toda semana temos imagens de pessoas espalhadas pelos corredores dos hospitais superlotados. A cada dia os médicos apresentam denúncias das péssimas condições de trabalho. Na segurança, não preciso entrar em detalhes. Sem uma política de fomento à economia, nossas desigualdades sociais ficam ainda mais gritantes.

Na infraestrutura não temos uma obra de grande porte para gerar emprego e renda, aquecer a economia local. A construção civil respira com a ajuda de aparelhos. Aliás, fomentar a economia local não é a virtude do atual desgoverno. Por aqui, nossas licitações com dinheiro do povo acreano são direcionadas para Manaus. Isso daqui se tornou um verdadeiro paraíso para os CNPJs manauaras após a eleição de Cameli.    

Infelizmente essa é a triste realidade do Acre nos dias atuais.  Diante de tantas operações policiais deflagradas nos últimos dois anos, podemos afirmar que o desgoverno Gladson Cameli é um caso de polícia. A corrupção está entranhada na estrutura do Executivo. Está tudo contaminado. O difícil é saber como vai acontecer o processo de descontaminação. Que as autoridades possam agir para conter essa doença, o Acre reencontrar um governo para nos tirar do fundo do abismo.


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