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segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Esquemão Azul (2022)

Coaf aponta que mais de R$ 400 milhões entraram em conta de pai do governador do Acre 

 

Gladson Cameli recebe do pai, Eládio Cameli, a faixa de governador; a partir de então, segundo Coaf, conta do patriarca recebeu vultoso quantidade de recursos (Foto: Agência Acre)

 

Fabio Pontes e Leonildo Rosas



Além das movimentações financeiras suspeitas apontadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) nas contas do governador do Acre, Gladson Cameli (PP), a Polícia Federal também investiga transações atípicas nas contas bancárias de seus familiares e empresas do clã Cameli. De acordo com comunicados emitidos pela Caixa Econômica Federal ao Coaf, durante os oito primeiros meses de Gladson Cameli à frente do Palácio Rio Branco, mais de R$ 420 milhões foram creditados na conta de Eládio Messias Cameli, pai do governador. A vultosa quantia de dinheiro chamou a atenção das autoridades, já que em janeiro de 2019 apenas R$ 107 mil entraram na conta.


Dividindo-se o volume de dinheiro com os oitos meses indicados pelo Relatório de Inteligência Financeira (RIF) do Coaf, há uma média de R$ 52 milhões entrando numa única conta de Eládio Cameli. É a partir de março de 2019, terceiro mês de Gladson Cameli como governador do Acre, que há um espantoso crescimento na entrada de dinheiro nas contas do patriarca. De R$ 525 mil em fevereiro, o valor passa para mais de R$ 50 milhões no mês seguinte.

O pico de recursos creditados na conta se dá em abril: mais de R$ 100 milhões. Entre março, abril e maio, conforme relatório do Coaf, R$ 205 milhões foram parar na conta de Eládio Cameli. Este volume de dinheiro entrando em tão pouco tempo em sua conta, além da tentativa de Gladson Cameli de usar as empresas do pai para complementar o pagamento e ocultar a compra de um apartamento de alto padrão em São Paulo, colocaram patriarca da família entre os investigados pela Polícia Federal no inquérito da Operação Ptolomeu.     

Eládio Messias Cameli, pai de Gladson, teve sua casa e as sedes das empresas sediadas em Manaus como alvo dos mandados de busca e apreensão da operação, deflagrada em 16 de dezembro com autorização da ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).    

Estas são informações levantadas junto ao inquérito da operação Ptolomeu, da Polícia Federal do Acre, remetido ao STJ que investiga a suposta atuação de uma organização criminosa (Orcrim) dentro do Palácio Rio Branco. O governador acreano é um dos alvos principais da investigação, e definido pela PF como o “chefe de organização criminosa”.  

Desde o dia 27 de dezembro, o blog do Fabio Pontes e o Portal do Rosas publicam uma série de reportagens sobre o inquérito policial, cujas informações são de relevante interesse da sociedade acreana por levantar suspeitas sobre o governador do Estado.

Conforme apontado em relatório da Polícia Federal, os R$ 420 milhões movimentados na conta de Eládio Cameli chamam a atenção não apenas por ter ocorrido num curto espaço de tempo - e justo após o filho assumir a cadeira de governador do Acre - como também por ter se encerrado meses antes de Gladson iniciar as tratativas para a compra do apartamento de luxo na capital paulista, cujo valor supera os R$ 5 milhões.

Na semana passada, o blog do Fabio Pontes e o Portal do Rosas já tinham mostrado essa tentativa feita pelo governador. Numa delas, Gladson Cameli usou sua holding familiar, a GGC Holding Ltda - que tem o filho Guilherme de seis anos como sócio - para adquirir o imóvel,

Após fracassar nas duas primeiras negociações, usou a Construtora Rio Negro (de propriedade do irmão Gledson Cameli) como pagadora e proprietária do apartamento.  A Construtora Etam Ltda - também de propriedade do pai e do irmão - foi usada como complementadora de pagamento para a compra milionária do apartamento.  Para a PF, ao recorrer a empresas nas negociações, o chefe do Palácio Rio Branco atuou para tentar ocultar o verdadeiro dono do apartamento. Além disso, a compra do imóvel serviria para a prática de um dos crimes pelos quais Gladson é investigado: lavagem de capitais.

Além do Acre, a família Cameli tem fartos tentáculos empresariais e políticos no Amazonas. As empreiteiras do pai do governador, o senhor Eládio Cameli, estão sediadas em Manaus. Ele mantém estreita relação com os principais caciques políticos de lá; de Amazonino Mendes a Eduardo Braga, passando por Omar Aziz e José Melo.

Por Manaus é visto como um bom doador de recursos financeiros para as campanhas desta cacicada. Como moeda de troca, vence grandes licitações do governo do Amazonas. Além de casas em Rio Branco e Cruzeiro do Sul, Gladson Cameli também tem comprovante de residência na capital amazonense.

Desde que Gladson Cameli assumiu o governo, o Acre se tornou o oasis para empresas manauaras ganharem dinheiro. Este paraíso ganhou até um nome: a República de Manaus. E é essa republiqueta que a Polícia Federal e a Controladoria Geral da União investigam por suposta movimentação de ao menos R$ 800 milhões dos cofres da saúde e da educação. Conforme a PF, uma verdadeira organização criminosa foi montada dentro do Palácio Rio Branco para desviar recursos do cidadão acreano.

(Entenda mais sobre o clã Cameli e seus negócios com a política no artigo A República de Ptolomeu).


O outro lado


A reportagem procurou, desde a semana passada, a assessoria de imprensa do governador Gladson Cameli para comentar as denúncias que lhe são imputadas pela Polícia Federal, mas até o momento não houve retorno do e-mail enviado. Em suas entrevistas e por meio de nota oficial, Gladson Cameli nega as acusações, diz que provará sua inocência e que colabora com as investigações.   


O outro do empresário Eládio Cameli (atualização às 16:20 de 5 de janeiro)

 

O empresário Eládio Cameli, em razão do noticiário, vem a público esclarecer que:

•    Ele e as empresas das quais é sócio não participaram de processos licitatórios ou de contratações diretas com o governo do Acre na atual gestão;
•    Inexiste a movimentação de R$ 420 milhões em sua conta corrente;
•    Todo seu patrimônio é fruto de décadas de trabalho, tendo como comprovar a origem lícita da integralidade do patrimônio;
•    Ele confia na Justiça brasileira e espera que, ao final da investigação, seja verificada sua total isenção com relação a qualquer fato tratado na investigação.

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