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segunda-feira, 1 de março de 2021

 Com turismo suspenso, indígenas do Acre aguardam imunização para reabrir 


Festival Yawa, do povo Yawanawa: com 20 anos de existência, evento foi interrompido em 2020 pela pandemia (Foto:Governo do Acre/2014)


A vila São Vicente, localizada às margens da BR-364 e distante 82 km da cidade de Tarauacá, no Acre, é o ponto de encontro de pessoas vindas de várias partes do mundo com o desejo de viver a experiência de passar alguns dias numa aldeia indígena da Amazônia. Após uma viagem de até oito horas – às vezes até um dia inteiro – de canoa subindo o rio Gregório, o visitante chega às aldeias do povo Yawanawa para participar dos festivais culturais ou das vivências espirituais. Tais eventos servem não apenas para apresentar o modo de vida ancestral do povo, mas também é uma importante fonte de renda para a sobrevivência das comunidades, além de movimentar toda a economia do entorno.


Mas em 2020, toda a agitação de embarcações subindo e descendo o rio para buscar os turistas foi interrompida por conta da pandemia da Covid-19, que passou a atingir o Brasil quase um ano atrás. Em 17 de março de 2020, a Fundação Nacional do Índio (Funai) emitiu a Portaria 419 proibindo a entrada de não-indígenas nas terras demarcadas, numa forma de evitar a chegada do coronavírus às aldeias.

Assim que a pandemia se revelou extremamente grave, os próprios líderes decidiram suspender as atividades, mesmo sob o risco de cessar uma valiosa fonte de renda. Além de pagarem por um pacote para participarem de festivais ou vivências, os turistas movimentam a economia das aldeias comprando os artesanatos produzidos, em maior parte, pelas mulheres, além dos chás medicinais feitos pelos pajés.

De acordo com o cacique Bira Yawanawa, liderança das aldeias Nova Esperança e Sagrada, no alto rio Gregório, a proibição na entrada dos visitantes resultou em grandes dificuldades econômicas para o seu povo. Apesar de contarem com recursos alimentares dos roçados, da pesca e da floresta, as comunidades indígenas amazônicas necessitam de itens vendidos nos mercados das cidades e que foram incorporados à sua base alimentar, como o óleo de cozinha, o sal e o açúcar. Com a pandemia, também é preciso comprar produtos de higiene, além do combustível para embarcações e geradores de energia.

“Desde abril paramos de receber pessoas. Se não fossem os amigos e irmãos de todo mundo que fazem algumas doações, eu não sei como é que estaríamos sobrevivendo aqui dentro. Eu sei que os outros povos indígenas estão passando mais necessidades do que nós”, diz Bira Yawanawa, em entrevista para a Amazônia Real desde a aldeia Sagrada. Em abril de 2020, os próprios Yawanawa decidiram suspender o turismo de vivência por temer o contágio do coronavírus, sem previsão de reabertura, conforme o cacique à reportagem, na ocasião.

“Não temos recebido nenhum apoio do município, estado ou governo federal. Nós, povos indígenas, somos os mais afetados e os mais abandonados dentro do setor público nacional. É lamentável falar isso, mas é verdade, não posso esconder o que nós vivemos hoje”, diz a liderança do povo Yawanawa.

A aldeia Nova Esperança, na Terra Indígena do Rio Gregório, foi uma das pioneiras no Acre no trabalho de receber turistas, ao organizar o primeiro Festival Yawa, em 2001, encabeçado por Bira Yawanawa.

Nestes 20 anos, o evento dos Yawanawa se tornou um dos mais conhecidos, recebendo pessoas dos mais distintos locais do Brasil e do planeta. Realizado sempre na última semana de outubro, o festival é o momento em que o povo Yawanawa celebra sua ancestralidade por meio dos rituais, cânticos, danças e brincadeiras. 


Reportagem especial na Amazônia Real

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