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segunda-feira, 1 de março de 2021

Amazônia submersa

 Enchentes deixam cidades inteiras do Acre inundadas 

 

Além de rios, igarapés também transbordaram com excesso de chuvas (Foto: Fabio Pontes)


Moradora de um bairro às margens do rio Acre na capital do estado, Maria Tibúrcio, de 61 anos, sabe como é o drama de ter a casa invadida pelas águas durante os meses de chuva. A Baixada da Habitasa é um dos primeiros bairros a ser atingido pela inundação. Após seis anos de “tranquilidade”, sem inundações, Maria Tibúrcio é um exemplo das pessoas que preferem conviver com a água na porta de casa a ir para um abrigo. “A gente fica preocupada porque não sabemos o tanto de água que vai subir e a gente se preocupa com as coisas que temos. Ainda bem que já está secando”, explica.


Conhecido como La Niña, o fenômeno de águas frias do Oceano Pacífico faz o período de chuvas na Amazônia – o “inverno amazônico” – ser mais severo neste começo de ano. A condição é reforçada por temperaturas acima do normal no Atlântico norte. Essas são as principais causas apontadas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para explicar precipitações acumuladas de até 100 milímetros (mm) em um único dia em muitas regiões do Acre.

O resultado são 10 das 22 cidades acreanas afetadas pelas enchentes, incluindo a capital Rio Branco. De acordo com dados da Defesa Civil, a estimativa é a de que 127.331 pessoas foram de alguma forma atingidas pelas inundações. A quantidade representa 14% da população acreana. Em Cruzeiro do Sul, segunda maior cidade do estado, o rio Juruá atingiu em 2021 o maior nível histórico, com 14,36 metros, impactando 33 mil dos seus 89 mil habitantes.

Mas o desejo de Maria Tibúrcio ver a água longe de casa ainda levará mais um tempo. As previsões apontam março e abril ainda de muitas chuvas. Apesar da vazante na capital, o rio Acre apresentou elevação nas cabeceiras nos municípios de Assis Brasil e Brasileia, o que influenciará diretamente em Rio Branco nos próximos dias. Caso o nível do rio suba, Maria já tem uma canoa na porta de casa para retirar os móveis. “A canoa é para não depender de ninguém.” A água sobe tão rapidamente que, muitas vezes, a ajuda da Defesa Civil não chega a tempo.

O rio Acre apresentou oscilações significativas em seu volume na capital. Após ter alcançado a marca dos 15,49 metros às 6 horas do último dia 21, baixou para 14,99 metros na primeira medição do dia 25. Já ao meio-dia ele voltou a subir, marcando 15,03 metros. Na tarde deste sábado (27), atingia 13,85 metros, estando um pouco abaixo da cota de transbordamento (14 metros), mas ainda acima da de alerta (13,50 metros).

A cota máxima atingida pelo rio neste ano foi de 15,84 metros. Até o momento, os municípios de Rio Branco e Boca do Acre, no Amazonas, são afetados pelo transbordo do rio. Em março de 2015, o rio Acre chegou à marca dos 18,40 metros, superando o então nível histórico de 1997, de 17,66 metros. Segundo dados do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), as chuvas na parte alta do rio ficaram abaixo da média em fevereiro deste ano. Em Brasileia, a concentração média de chuvas é de 283,20 milímetros; do primeiro dia do mês até sábado, 27, choveu 236 milímetros.

Após a região ter sido afetada, em 2020, por um clima seco que levou estes mesmos rios a níveis críticos de vazante, por conta das águas mais quentes no Atlântico norte, agora o esfriamento do Pacífico provoca um volume elevado de chuvas, com as consequentes inundações. 


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