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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

A política da floresta desmatada

Governo comemora pequena redução do desmatamento no Acre, mas ambiente político é desfavorável 



Atuação repressiva de forças policiais contribuiu para Acre reduzir desmate (Foto: Governo/Divulgação)


O governo Gladson Cameli (Progressistas) tem comemorado, ainda que timidamente, a tímida redução do desmatamento em 2020 no Acre, conforme apontou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), por meio de seu sistema oficial de análise da área de Floresta Amazônica devastada, o Prodes. Segundo os dados, o desmatamento acumulado este ano no estado foi de 652 km2. Na comparação com 2019, o Acre deixou de perder 30 km2 de mata nativa, já que a área derrubada anteriormente foi de 682 km2. 

Apesar da redução, o desmatamento de 2020 ainda continua muito alto para os padrões acreanos. O total de floresta derrubada esse ano é o sexto pior da série histórica do Inpe, iniciada em 1988, ficando atrás de 1995, 2002, 2003, 2004 e 2019. Vale destacar que as imagens de satélite analisadas pelo Prodes referem-se sempre ao período entre agosto do ano anterior e julho do corrente. Portanto, o desmatamento de 2020 do Prodes não engloba a floresta derrubada de agosto para cá. 

Ao se analisar os dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real, o Deter, também do Inpe, os alertas para derrubada da floresta - entre primeiro de janeiro e 30 de novembro - somam uma área de 445 km2. O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), apontou que o Acre foi o terceiro estado que mais contribuiu para a perda de cobertura florestal do bioma em outubro: 84 km2. Um aumento de 133% quando feita a comparação com o mesmo mês de 2019.  

Ainda de acordo com o SAD, apenas entre agosto e outubro deste ano o desmatamento da Amazônia dentro do Acre foi de 435 km2 - aumento de 98% em cotejo com os mesmos meses de 2019. Ou seja, o total de floresta derrubada em três meses detectado pelo SAD/Imazon chegou bem perto do captado ao longo de todo o ano pelo Deter/Inpe: 445 km2. 

Portanto, não há muito o que comemorar. Tanto o ambiente político local quanto nacional são propícios para o avanço da destruição em 2021. A atual explosão na taxa de desmatamento - e também de queimadas - no Acre tem como única explicação a política do governo Gladson Cameli de fazer do grande agronegócio o carro-chefe da economia local - o que tenho escrito aqui reiteradas vezes. A isso se somou a política de destruição ambiental implementada em Brasília pelo governo Jair Bolsonaro. 

O governo explica a redução de 30 km2 de desmatamento de 2020 para 2019 recorrendo, justamente, à sua política do agornegócio. Isso mesmo. Os programas de assistência técnica rural ao homem e mulher do campo são apontados como uma das causas para o Acre ter reduzido seu impacto sobre a Amazônia. Outro feito apontado pelo governo foi a compra e entrega de equipamentos para melhorar a produção do campo, sem a necessidade de abrir novas áreas para agricultura ou pastagem. 

Para isso, a gestão Cameli recorreu ao  Programa de Desenvolvimento Sustentável do Acre (PDSA), financiado com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e criado durante os governos petistas - tão demonizados pelo atual grupo político no Palácio Rio Branco. 

Além disso, o fortalecimento das ações de “comando e controle” de combate aos crimes ambientais é apontado como outro fator para o resultado. Essa ação se dá, em particular, por meio do trabalho repressivo desenvolvido pelo Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) da PM. 

“Importante destacar que no ano florestal 2018/2019 o incremento do desmatamento no estado do Acre foi de 706,75 km², enquanto no período de 2019/2020 foi de 554,67 km², ou seja, houve uma redução 21,5 %, em termos de incremento anual. Até 2020, o desmatamento acumulado no estado do Acre passou a representar aproximadamente 15% do seu território, ou seja, o Acre ainda detém 85% de cobertura florestal”, diz a secretária-executiva da Secretaria de Meio Ambiente,  Vera Reis. 

E aqui também vale destacar que a decisão do governo Cameli de combater o desmatamento da Amazônia não é por simpatia à causa ambiental - o que a pessoa do governador nunca demonstrou. A manutenção da floresta em pé é a garantia de o Acre receber alguns milhões de dólares e euros para manter sua pesada máquina administrativa funcionando. Menos floresta, portanto, significa menos dinheiro, menos investimento - o que compromete os planos eleitorais de qualquer político. 

Assim como a floresta acreana, a imagem do governador Gladson Cameli também estava muito queimada. Sua gestão (ou a falta dela) disparou o gatilho da devastação da Amazônia. Todavia, muito mais do que uma questão política, a preservação da floresta deve ser olhada como vital para a nossa sobrevivência. Ela é essencial para equilibrar a vida em todo o planeta - em especial a nossa que estamos aqui. 


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