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quarta-feira, 17 de abril de 2019

A tragédia amazônica à brasileira

Quem acompanha as movimentações da política ambiental brasileira, sobretudo a voltada para a Floresta Amazônica, sabe que nunca antes na história deste país a preservação da região esteve tão ameaçada quanto agora no governo de Jair Bolsonaro (PSL). E não se trata aqui de falar apenas de proteção de árvores ou de animais silvestres.

O que está em risco é a própria vida humana. Em primeiro lugar pelos índices crescentes de violência na zona rural. Apenas nos três primeiros meses deste ano, foram registradas 36% do total das mortes de 2018 relacionadas aos conflitos agrários.

Pessoas estão sendo executadas pelo simples fato de reivindicar um pedaço de terra para morar e tirar seu sustento. Famílias que acreditavam ter comprado um lote são expulsas à bala e têm suas casas queimadas na Amazônia.

O comportamento e as declarações do próprio presidente da República fomentam a violência dos maiores contra menores, confiantes de que não serão punidos por terem o respaldo presidencial.

Paralelo a isso, o governo faz uma desmonte na estrutura dos órgãos ambientais, como o Ibama e o ICMBio, que passaram a ser vistos como os demônios pelo atual governo, Além de reduzir a verba para tais instituições, Bolsonaro agora quer extinguir o poder de atuação dos fiscais.

A mando dos ruralistas, ele vai acabar com o respaldo legal dos agentes ambientais de destruir equipamentos e maquinários que provocaram a destruição da floresta, e cuja retirada para apreensão fica inviável por conta da logística. A medida vale desde 2008 e é uma das formas de intimidar a ação dos criminosos. 

Com a  carta-branca dada por Bolsonaro, a tendência é de o desmatamento na Amazônia alcançar índices ainda maiores a partir deste ao. Dando amparo a essa atuação palaciana,  parlamentares no Congresso ligados ao setor rural apresentam projetos de lei para afrouxar ainda mais a legislação ambiental brasileira.

Entre estes notáveis está o senador eleito pelo Acre (mas não acreano) Márcio Bittar, do MDB. O emedebista venceu a disputa eleitoral de 2018 embalado pela onda conservadora de Bolsonaro, vestindo de corpo e alma a camisa do então presidenciável com seus discursos antiambiental e anti-indígena.

Nestes pouco mais de dois meses de mandato, o projeto mais “importante” apresentado pelo senador foi o de acabar com a reserva legal, mecanismo previsto no Código Florestal que evita transformar a Amazônia num grande cerrado descampado e sem vida.

O Acre já teve melhor representado no Senado Federal. A atual bancada apenas nos coloca numa posição humilhante no cenário nacional e internacional. Todas estas ofensivas de Bolsonaro e Bittar ocorrem no momento em que todo o mundo discute e sente os impactos das mudanças climáticas.

Exemplo mais claro foi no Rio de Janeiro na semana passada, quando dezenas de pessoas perderam a vida por conta das chuvas torrenciais. Chuvas que estão ficando cada vez mais fortes e frequentes com o aumento da temperatura da água dos oceanos, como as registradas no Atlântico.

Márcio Bittar e a trupe ruralista precisam entender que manter a floresta em pé é muito mais vantajoso para o agronegócio. As florestas regulam o clima do mundo, as chuvas. Sem água não há como a soja crescer, o gado engordar. É uma lógica simples.

É esperar que a sociedade esteja atenta a todos estes ataques promovidos pela bancada ruralista, e cobrar de seus representantes uma postura coerente, que não vise apenas ampliar o lucro daqueles que querem transformar a floresta em pasto - as consequências - se ficarmos de braços cruzados - serão catastróficas.

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