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quinta-feira, 19 de maio de 2016

Não "passaralhos"

A superintendência do Banco do Brasil no Acre deu início nas últimas semanas a uma série de pressões sobre o governo estadual para ter de volta, em sua carteira de clientes, servidores públicos que há 15 anos decidiram encerrar suas contas na instituição e optaram por receber os salários por meio das cooperativas de crédito. Com a possibilidade de participar da divisão das sobras (lucros) e atraídos por taxas de juros bem mais atrativas, funcionários escolheram movimentar seus ganhos por meio das cooperativas como a Sicoob Acre e Sicoob CrediSul.

Desde 2001, um acordo entre governo do estado, Banco do Brasil e cooperativas permite que a Secretaria da Fazenda transfira diretamente os salários dos funcionários para o sistema cooperativo de crédito, sem a necessidade de antes passar pelo BB. Na semana passada, uma reunião entre representantes destes mesmos três setores aconteceu na Secretaria de Gestão Administrativa (SGA).

Agora, o Banco do Brasil quer obrigar estes servidores a reabrirem suas contas na instituição para, antes de repassar os salários para as cooperativas, também gerenciar o dinheiro. Este foi o pedido do banco ao governo; os dirigentes das cooperativas são contra. Com a medida, quase 400 cooperados podem ser afetados, o que representa uma movimentação financeira superior a R$ 1,5 milhão.

Para diretores e gerentes de cooperativas, o Banco do Brasil faz essa pressão por estar vendo diminuir seu número de clientes no estado, o que representa menos lucratividade. Este ano a Prefeitura de Rio Branco encerrou seu convênio com o BB e passou para a Caixa Econômica a folha de pagamento do funcionalismo municipal. Em 2007 a Assembleia Legislativa já tinha feito o mesmo, mas optando pelo Banco da Amazônia.

Estas medidas fizeram o principal banco público do País perder mercado no Acre, onde mantinha hegemonia até bem pouco. O Banco do Brasil passou a gerenciar a folha de pagamento do desde a falência do Banco do Estado do Acre (Banacre), em 1999.

Com essa queda de clientes, o BB se viu obrigado a partir para a briga para retomar lucros -e as cooperativas de crédito se tornaram seu alvo preferencial. Diferente do sistema bancário convencional, no cooperativismo de crédito cada sócio é dono da instituição. Existe prestação de contas de todas as movimentações, e todas as grandes decisões só podem ser tomadas em assembleias. Nelas, o servidor recebe atendimento diferenciado e ágil por também fazer parte do negócio.

O setor é altamente regulamentado pelo Banco Central, o que consolida a base sustentável do sistema cooperativista. Ao final, as sobras –o que seriam os lucros dos bancos – são compartilhadas entre os membros. Em 2015, por exemplo, somente as sobras da Sicoob CrediSul somaram quase R$ 42 milhões.

Taxas de juros são outro diferencial.

Enquanto o sistema Sicoob tem taxa de juro anual em seus cartões de crédito de 183%, no Banco do Brasil ela chega a 427%; já a do cheque especial é de 183%, contra 274%; em abril, a taxa média de crédito pessoal nas cooperativas do Sicoob foi de 2,75%; já no mercado financeiro foi de 3,34%. Os dados fazem parte da análise mensal do Banco Central.

O Sicoob, além do mais, não cobra taxas de manutenção das contas, o que evita transtornos comuns vividos por clientes do sistema bancário que, vez e outra, veem o seu dinheiro desaparecer por conta das cobranças das taxas de serviços e manutenção cobradas.

O sistema cooperativista de crédito vem apresentando resultados positivos nos últimos anos. Ao longo de 2015, o sistema Sicoob apresentou resultado de R$ 2,3 bilhões –um crescimento de 14% em comparação com 2014. Os ativos totais alcançaram a cifra de R$ 57 bilhões entre janeiro e dezembro de 2015, o que representou aumento de quase 19% no comparativo com igual período do ano anterior.

O sistema de crédito cooperativista ganhou destaque em todo o mundo com a crise econômica mundial de 2008 provocada pelo estouro da bolha imobiliária americana. Enquanto grandes bancos dos Estados Unidos faliram ou precisaram ser socorridos pelo governo por conta das especulações em suas operações, as cooperativas de crédito se mostraram consolidadas, passando incólumes pela grande quebradeira do mercado internacional.

É por conta destas diferenças que muitos correntistas do BB estão saindo da instituição e escolhendo uma cooperativa de crédito como a melhor forma de gerenciar seus salários.  
As reportagens da série Profissão jornalista: as demissões em massa nas redações da Amazônia Legal foram produzidas pelos jornalistas Ana Aranda, Andrezza Trajano, Elaíze Farias, Freud Antunes, Keka Werneck, contou com as participações dos repórteres fotográficos Alberto César Araújo, também editor de fotografia, e Odair Leal, e da colaboração do jornalista Fábio Pontes. A coordenação da série foi da jornalista Kátia Brasil. As matérias trazem os infográficos do designer Victor Gabriel com os números das demissões do Caged e dos sindicatos nos estados do Mato Grosso, Amazonas, Acre e Pará. As reportagens serão publicadas ao longo dessa semana.

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