Páginas

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Eduardo Ribeiro, Maju e o Amazonas


Eduardo Ribeiro, filho de escrava negra do Maranhão
Em uma caminhada absorta pela rua José Clemente, no centro de Manaus, uma charrete do século 19 estacionada na garagem de uma casa antiga me chama a atenção. Paro, dou meia-volta e descubro que se trata de um museu, especificamente a casa de Eduardo Ribeiro, o primeir o governador do Amazonas. Decido entrar e sou recepcionado por um jovem guia, estudante de História.

Lá, sou apresentado ao modo de vida de um intelectual que fez toda a diferença para a construção do que é hoje o Amazonas e sua capital.  O mais interessante nisso tudo é a descoberta de que o primeiro governador do Estado, um visionário, era mulato –filho de uma mãe negra escrava e um pai branco. Ele nasceu em 1862 no Maranhão.

Isso em uma sociedade que se apresentava extremamente preconceituosa e racista; traços estes que ainda são perceptíveis em parte dos amazonenses.

Veja: Amazonas é um dos Estados mais racistas, afirma pesquisadora

O caso mais recente a provar isso foi o ataque racista realizado contra a jornalista Maria Júlia Coutinho, que teve Manaus como uma das principais bases deste grupo insano.

Leia: Grupo virtual criado no AM é suspeito de racismo contra jornalista Maju

Soa paradoxo um Estado cuja formação histórica só foi possível graças às suas raízes indígenas, e depois com a chegada dos escravos negros e de Nordestinos que para cá vieram para produzir borracha nos seringais. E foi esta mesma borracha a responsável por importar para Manaus um estilo de vida europeu, sobretudo parisiense.

A riqueza e a fortuna geradas pela extração do látex fizeram a Amazônia viver seu apogeu no fim do século 19 e início do 20. Os barões da borracha faziam questão de ostentar uma vida luxuosa e viver nos mesmos moldes da burguesia francesa. Isso se expressava nas roupas, nas construções e até nos hábitos diários. Talvez o maior símbolo desta imponência seja o belo Teatro Amazonas –obra que estava empacada, mas concluída por Eduardo Ribeiro, responsável pelos últimos retoques no projeto arquitetônico.

E o grande responsável por transformar Manaus na “Paris dos Trópicos” foi o mulato Eduardo Ribeiro, que concebeu o projeto urbanístico da cidade como cópia da capital da França. Ser um apaixonado pela cultura francesa e um engenheiro de visão, não livrou Ribeiro de ser alvo dos preconceitos da sociedade amazonense da época, que não admitia o fato de ser governada por um homem de origem negra.

Tanto assim, que Eduardo Ribeiro é retratado em seus quadros com os aspectos de um homem
A sala de jantar do casarão de Eduardo Ribeiro
branco. Nas pinturas sua pele ganha tons mais claros, e em uma delas suas bochechas ficaram rosadas. Eduardo Ribeiro foi morto em 1900, em circunstâncias até hoje não bem esclarecidas. Sofrendo com a esquizofrenia, foi atormentado pela loucura, e tinha a camisa de força como uma de suas últimas vestimentas.

A conclusão deste minha excelente visita ao casarão de Eduardo Ribeiro é a de que o preconceito e o racismo são meros frutos da ignorância em seu estado mais puro –estejam eles em qualquer posição geográfica. Tentar compreendê-los em um Estado de tão variadíssima formação social e cultural  chega a ser um desafio que a mente humana em seu mais elevado grau jamais compreenderá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário