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terça-feira, 1 de abril de 2014

Madeira abaixo


Nos últimos 16 anos, nós acreanos fomos obrigados a acreditar que morávamos quase no Paraíso, o Jardim do Éden. Acreditávamos que erámos um país (de primeiro mundo) dentro de um emergente, que os outros Estados da federação em nada serviam de exemplo para nós; muito pelo contrário, eles deveriam imitar nosso exemplo. Foi tanto ufanismo que nem mais andávamos com os pés no chão. 


Uma Suíça amazônica, o Acre não dependia mais do Brasil. Nosso olhar agora era para o Pacífico e para a desprezível costa oeste americana.; quem sabe poderíamos ajudar estas regiões do globo terrestre com nossa potencialidade. Para tanto investimos na construção de uma estrada que nos conectasse aos portos peruanos do Pacífico. 

Alguns bilhões de reais nos levaram até Lima, mas esquecemos de gastar alguns milhões na construção de uma ponte que nos ligasse ao...Brasil. Enquanto olhávamos para a papagueada integração econômica com Peru  e Bolívia, ficamos relapsos na conexão com nosso próprio país. 

Para o governo interessava muito mais a BR-364 sentido Rio Branco/Cruzeiro do Sul do que Porto Velho (RO). Afinal, era por aqui que esta rodovia renderia alguns milhões aos cofres das empreiteiras que poderiam, depois, retribuir os detentores do poder. Gastamos com o quilômetro do asfalto mais caro do mundo; dizem que hoje em alguns trechos ele supera os R$ 5 milhões. 

Um investimento tão alto para ser restringido o tráfego de caminhões pesados, e onde crateras se formam a cada quilômetro superfaturado. Enquanto isso, não nos demos conta da importância em sairmos do isolamento. No verão, o rio Madeira fica a nível crítico, levando caminhões a demorar até 12 horas para fazer a travessia de balsa. 

Em 2014 fomos surpreendidos com a enchente histórica que deixou a BR-364 debaixo d’água. Só então nós, acreanos, nos demos conta da importância que está  “rodoviazinha” de alguns metros de comprimento representa para nós. O fechamento da estrada mostrou toda nossa fragilidade e vulnerabilidade. 

Até os simples ovos de galinha faltaram nos mercados. Saímos de nossa torre de marfim para ver nossa posição frágil no cenário nacional. Que este evento (natural ou provocado pelas usinas) sirva de lição para o Acre sair do seu mundo de fantasia e passar a acreditar que é parte de uma República Federativa, e não uma ilha, “o melhor lugar para se viver” no mundo. 

Que os gestores petistas deixem de arrotar para Rondônia, acusando-os sempre de serem os vilões da pátria, destruidores da floresta, e passem a ampliar o diálogo com Porto Velho. É preciso que os dois Estados parem de ficar um de costa para o outro, mas que juntos possam discutir propostas para que esta catástrofe do isolamento não volte a se repetir.  

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