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quarta-feira, 30 de março de 2022

Vulnerabilidade extrema

 Povos indígenas são os mais impactados pelas mudanças climáticas no Acre

 

 

Indígenas deixam abrigo após vazante de rio na cidade de Jordão (Foto:Pedro Devani/Secom/AC)

 

As cheias na Amazônia Ocidental, comuns nesta época do ano, têm sido cada vez mais intensas e em intervalos reduzidos. No Acre, populações indígenas estão entre as mais afetadas. Em muitas situações, os indígenas nem bem se recuperaram dos efeitos da última cheia, e um novo transbordamento dos rios destrói todo o roçado e criações das aldeias. Em 2022, por exemplo, há relatos de aldeias terem sido atingidas por grandes cheias por mais de uma vez num intervalo de tempo inferior a 30 dias. Os impactos das enchentes extremas agravam ainda mais a situação de grupos vulneráveis, que desde 2020 estão entre os mais fragilizados pela pandemia da Covid-19.

É o que acontece atualmente com os Jaminawa do rio Purus e os Huni Kuin dos rios Jordão e Tarauacá, nos municípios acreanos de mesmo nome dos mananciais. Após já terem sido bastante impactados pelas cheias de um ano atrás, eles voltaram a ter suas aldeias inundadas entre fevereiro e março de 2022. O mesmo acontece com as aldeias Huni Kuin e Shanenawa espalhadas pelo baixo rio Envira, em Feijó. Os Yawanawa do rio Gregório, em Tarauacá, sofrem com o mesmo problema.

De acordo com dados da Defesa Civil Estadual, 1011 indígenas, em cinco diferentes municípios, foram atingidos pelas cheias dos rios em 2022. O município de Feijó foi o que registrou o maior número de impactados: 460 pessoas em 12 comunidades. Além dos Huni Kuin e Shanenawa, Feijó ainda é habitado pelos Ashaninka, Madijá (Kulina) e os recém-contatados Xinane – todos moradores das margens do rio Envira.

Até mesmo os indígenas moradores da capital Rio Branco são afetados. Ao menos 11 famílias Huni Kuin que moram em bairros da periferia foram impactados pela cheia do rio Acre. Suas casas ficam nas áreas mais baixas da cidade, mais vulneráveis à subida do nível do manancial. Todos os indígenas oram levados para uma escola pela Defesa Civil.

Considerada uma das populações mais vulneráveis do Acre por não disporem de territórios demarcados, os Jaminawa (também chamados de Yaminawa) do município de Sena Madureira enfrentam dificuldades. Pelo fato de suas casas dentro da cidade estarem próximas ao leito do rio Yaco, muitos foram levados para um abrigo mantido pela Defesa Civil.

As aldeias Sete Estrelas e Canaã estão entre as mais afetadas, com as áreas destinadas às plantações destruídas pelas águas do Purus, onde está localizada a maior parte dos Jaminawa.  “O Purus é um rio baixo por natureza. Qualquer subida ele já alaga os roçados nas aldeias. Já sabendo disso, os parentes fazem suas casas nas partes mais altas, na terra firme. Mas quando a enchente é muito grande, nada escapa”, diz o cacique José Correia Tunumã, principal liderança Jaminawa no Acre.

“Na Sete Estrelas e na Canaã a água levou tudo. O pessoal teve que entrar em terra firme para escapar da enchente. Outros foram para uma aldeia vizinha, que é terra alta.”

Segundo a liderança, desde fevereiro os Jaminawa são afetados pela subida repentina das águas do Purus. “Mês passado ele deu uma subida e depois uma baixada. Aí, quando foi no começo deste mês, encheu de novo. Aí ele deu uma parada e agora voltou a subir aos poucos”, explica Tunumã. Segundo dados do Monitoramento Hidrometeorológico do governo do Acre, em Sena Madureira o rio Purus está em situação de alerta máximo, acima da cota de transbordamento.

“Nas aldeias a situação está muito precária. Ano passado a enchente foi muito grande, acabou com todo o nosso roçado, os legumes. A gente conseguiu umas cestas básicas com o pessoal da Funai, o pessoal da igreja e da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), que nos ajudou. Aí veio o verão, fizemos os roçados, as plantações, mas agora veio outra enchente e levou tudo de novo”, explica o cacique Jaminawa. De acordo com ele, ao menos 366 Jaminawa vivem nas aldeias do rio Purus, mas nem todas foram atingidas. 


Leia mais sobre o assunto na reportagem da Amazônia Real

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