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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Histórias ameaçadas

Vacinação no Vale do Javari está atrasada e indígenas denunciam que anciões estão morrendo por Covid-19 


Após um cenário de aparente tranquilidade no controle da pandemia da Covid-19 entre as populações indígenas da região amazônica, a doença voltou a representar uma ameaça a comunidades indígenas da Amazônia. Na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, fronteira com o Peru,  a imunização da terceira dose está atrasada e a vacinação das crianças com menos de 12 anos não foi iniciada. O Vale do Javari é o território com maior referência de povos de recente contato e de grupos isolados do país.


Em janeiro deste ano, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) chegou a emitir uma nota alertando para um surto gripal e casos Covid-19 nos territórios indígenas, denunciando falta de assistência técnica, medicamentos e EPIs. Em Roraima, explosões de casos de gripe levou o Conselho Indígena de Roraima a suspender suas atividades presenciais durante 15 dias em janeiro.

Na aldeia Maronal, na TI Vale do Javari, quatro anciãos do povo Marubo morreram entre novembro de 2021 e fevereiro deste ano com suspeita de Covid-19. A morte mais recente aconteceu no último sábado (19), com o falecimento de Luzia Marubo, de 99 anos, considerada a Marubo mais velha moradora da Maronal. Já há alguns dias ela apresentava sintomas de gripe. Por não haver testes nas aldeias, não é possível saber se ela contraiu Covid-19.  

No dia 4 deste mês, uma jovem da mesma aldeia também veio a óbito. Entre os idosos vítimas da doença está Alfredo Marubo, o Ivinimpapa, na língua nativa, de 84 anos, uma das mais importantes lideranças do povo. As outras vítimas são Zacarias Marubo, 83 anos, e Fernanda Joaquim Marubo, 82.

“A Covid se alastrou para toda a região do Vale do Javari. Hoje a gente sofre com as consequências da Covid, principalmente com as sequelas para os mais idosos. A nossa aldeia está em momento de comoção. É uma morte atrás da outra. Para nós é uma situação bastante fora do normal. Por ser uma comunidade pequena, onde todo mundo se conhece, essas mortes abalam muito”, diz Manoel Chorimpa, presidente da Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povo Marubo do Alto Rio Curuçá (Asdec), à Amazônia Real, nesta semana. “É uma situação muito triste para a nossa história.”

No último dia 11 a Asdec divulgou nota relatando preocupação com o avanço de casos suspeitos de Covid, e a morte de uma jovem ocorrida no começo do mês em hospital da capital Manaus. “Desde início de julho de 2021, encaminhamos ao DSEI, o programa local de atendimento aos idosos, justamente com as preocupações que hoje estamos vivendo com as sequências de óbitos”, diz trecho da nota.

O contágio entre os mais velhos é a principal preocupação para os Marubo por serem os mais vulneráveis a desenvolver quadros graves da doença, podendo levar à morte. O óbito dos anciãos também representa a perda dos conhecimentos tradicionais do povo Marubo. Para as populações indígenas, seus velhos e velhas são os guardiões de toda a memória ancestral transmitida de geração a geração pela oralidade.

 

Leia a reportagem completa na Amazônia Real



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