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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

O clima das eleições

Resultado das eleições municipais coloca ainda mais em risco meio ambiente e saúde da população em 2021 


Em 2020, moradores de Rio Branco respiraram ar contaminado pela fumaça por 46 dias (Foto: Sérgio Vale)


A consolidação do resultado das eleições municipais em Rio Branco, a capital do Acre, com a quase certa vitória de Tião Bocalom (PP) em 29 de novembro, representa um grande risco não apenas para a preservação do meio ambiente, mas também a saúde da população rio-branquense. Assim como dois e dois são quatro, é certo que Bocalom adotará uma política de desmantelamento de proteção ambiental, para fazer valer seu velho clichê de incontáveis campanhas do “produzir para empregar”. 

Com uma visão voltada exclusivamente para o setor rural desde o início de suas sucessivas campanhas eleitorais desde 2006, Bocalom sempre se mostrou contrário às políticas de proteção do meio ambiente. Para ele, tais normas são um entrave para o avanço do agronegócio. Apesar de estar numa disputa para a prefeitura de uma capital, Bocalom não deixa de lado sua obsessão pelo campo, esquecendo-se de apresentar propostas concretas e reais para quem está na zona urbana. 

Conforme todas as pesquisas apontam, é muito difícil ele não ser eleito prefeito. Portanto, a partir de 2021, a tendência é de as queimadas em Rio Branco ficarem ainda mais críticas. Desde 2019, com a chegada de Gladson Cameli (PP) ao governo do estado, o Acre passa por uma crise ambiental com taxas recordes de desmatamento e fogo. 

Neste ano estamos com 9.174 focos de queimadas registrados, contra 6.802 de 2019. E Rio Branco - com uma extensa área rural no seu entorno - está nas primeiras posições entre os municípios acreanos. Ano passado ocupou a quarta colocação, com 619 focos. Em 2020, até o dia 18 de novembro, são 730 registros de queimadas no município. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Inpe. 

Enquanto o fogo é captado pelos satélites da Nasa lá em cima, aqui em terra firme nós vamos inalando uma fumaça tóxica que tantos danos causam à saúde humana e das demais espécies. Em 2020, os mais de 400 mil moradores da capital acreana respiram um ar altamente tóxico por 46 dias, como apontam os dados do Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (LabGama). 

Em resumo, isso significa que chegamos a respirar um ar contaminado até 10 vezes superior ao tolerado pela Organização Mundial da Saúde, a hoje demonizada OMS. O ideal é que a concentração de material particulado - o chamado PM 2,5 - no ar não ultrapasse os 25 ug/m3. Nos dias de agosto - mês de pico das queimadas - a concentração de PM 2,5 ficou perto dos 400 ug/m3. 

E tudo isso em meio a uma pandemia de um vírus mortal e a um processo de mudança climática que tem reduzido, ano após ano, o volume de chuvas no Acre, em especial Rio Branco. Não tem achado estranho estarmos vivendo um novembro seco? 

Nesta época era para dormirmos e acordamos com a chuva. Mas o aquecimento das águas do oceano Atlântico - a léguas de distância de nós -  tem nos feito vivermos dias de verão amazônico em pleno novembro. 

Portanto, com 2021 sentindo os efeitos deste 2020 seco e quente, além do ambiente político de desprezo à proteção de nossos recursos naturais, a perspectiva é de que a quantidade de queimadas e de dias de ar contaminado sejam bem maiores e impactantes do que acabamos de viver semanas atrás. 

Com Tião Bocalom na prefeitura, Gladson Cameli no governo e Jair Bolsonaro na Presidência, a tendência é de Rio Branco - assim como a Roma de Nero - ficar literalmente incendiada, e os nossos pulmões tomados por fumaça tóxica. Não vai ter vaca mecânica que sobreviva ao fogaréu nos arredores da capital acreana.  

Para nossa sorte, pode ser que já estejamos vacinados contra o coronavírus. Mas não será a hora de nos desfazermos de nossas máscaras: vamos precisar muito delas para enfrentar a fumaça das queimadas.  


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