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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

JV e sua sobrevivência

“Derrota” de Jorge Viana é resultado de desgaste e efeito da onda anti-PT

Se há um dado que chama a atenção na pesquisa Ibope/Rede Globo divulgada nesta quinta-feira, 20, é a queda do senador petista Jorge Viana. Ele, que há até bem pouco tempo era apontado como franco favorito para mais oito anos no Senado, viu o crescimento de seus oponentes e, se as eleições fossem hoje, ele precisaria ter que dizer “adeus, Brasília”.

Até o fim de agosto, Jorge Viana aparecia sempre no primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, com uma considerável distância para o segundo colocado, o também senador Sérgio Petecão (PSD). Márcio Bittar (MDB), este nem se cogitava como ameaça a Jorge Viana e toda sua áurea.

Mas eis que, setembro avançou, e tudo mudou. O troca-troca de posições na primeira fila do grid de largada lembra uma disputa clássica num autódromo de Fórmula 1. Primeiro, Petecão pisou mais forte no acelerador e ultrapassou Jorge Viana. A Ferrari petista parece ter tido uma pane, e Márcio Bittar aproveitou a oportunidade e deixou o adversário para trás.

A não reeleição do criador da florestania é muito mais emblemática do que a derrota de seu partido para o governo. Afinal, desde que o mundo é mundo as pesquisas mostram que Gladson Cameli (PP) sempre esteve à frente de Marcus Alexandre (PT).

Considerando a margem de erro, Jorge e Bittar estão tecnicamente empatados. Esse empate já era apontado em duas pesquisas divulgadas na semana passada, mas com Jorge numericamente na frente.

Se levarmos em consideração estas mesmas pesquisas, veremos que a queda do senador tem explicação: entre os candidatos ao Senado, ele é o campeão em rejeição pelos eleitores. Isso tudo após ser avaliado como o melhor prefeito de Rio Branco lá na década de 1990 e o melhor governador do Acre na primeira metade da década passada.

Jorge Viana pode ser visto como o “reconstrutor” do Acre. Assumiu um estado falido em todos os seus sentidos. As instituições estavam carcomidas, as finanças numa ruína. Com sua mão-de-ferro, o petista reestruturou o Acre. Em 2006, elegeu seu vice, o desconhecido Binho Marques, como sucessor.

Por incrível que pareça, Jorge Viana hoje paga pelo preço dos oito anos do governo de... Tião Viana (PT), seu irmão. Tião simplesmente descontruiu todo o legado deixado por Jorge. Apesar de ter mantido o bom funcionamento da máquina pública, que garante a sobrevivência do Acre, Tião foi um governo desastroso, cujos grandes investimentos ocorreram de forma atabalhoada e sem planejamento.

A segurança pública entrou em colapso. Ao invés de assumir responsabilidades e colocar o estado para coibir o crime, Tião Viana preferiu empurrar a culpa para o também impopular Michel Temer (MDB) achando que, assim, teria o apoio da população. De quebra, ainda colocou o secretário de Segurança, responsável por todo este caos, como candidato a vice-governador na chapa do PT.

A receita estava pronta para o fracasso que agora as pesquisas atestam do partido nas urnas. Além do mais, a onda anti-PT parece ter chegado de forma tardia ao Acre, atingindo Jorge Viana. Foi na eleição de 2016 que os brasileiros levaram os petistas nos grandes municípios do país a derrotas custosas. Por sinal, entre as capitais, apenas Rio Branco sustentou a legenda, com a reeleição tranquila de Marcus Alexandre.

Por aqui, o discurso radical de extrema direita do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) caiu como uma sinfonia no ouvido dos acreanos, que podem lhe render até 60% dos votos. Márcio Bittar, espertamente, também com um discurso de direita e de defesa da “civilização cristã”, pegou carona e agora os resultados estão aí.

Jorge Viana, que até bem pouco tempo era visto como diferente “disso tudo que está aí”, muitas vezes dissociado da imagem do PT e os sucessivos escândalos de corrupção que envolvem o partido, agora foi tragado. Seu eleitorado, fiel e mais qualificado, prefere não associá-lo ao petismo, dizendo que vota na pessoa e não no partido.

Mas até isso o quase intocável ex-governador da florestania parece ter perdido. É óbvio que a eleição não está definida. Ainda faltam pouco mais de 15 dias para o primeiro turno. Quase 30% do eleitorado está indeciso. A Jorge, cabe correr contra o tempo, se afastar do desgaste do governo do irmão e da imagem de seu partido. Quem sabe, dessa forma, ela escape e consiga uma sobrevida nas urnas.     

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