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sexta-feira, 2 de julho de 2021

rondonização prometida

 Grileiros e madeireiros de Rondônia invadem Acre


Após desmatarem e limparem área, grileiros erguem casas para "demarcar" novo território conquistado (Foto:Marcos Vicentti;Secom-AC)


 Quadrilhas especializadas em roubo de madeira em Rondônia agora invadem o Acre, estado vizinho. No começo de junho, após 18 dias de realização da Operação Curupira, o Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA), unidade da Polícia Militar acreana, flagrou 127 toras sendo roubadas em solo acreano por madeireiras da Ponta do Abunã, localizada na tríplice divisa com o Acre e o Amazonas. O valor da carga foi avaliado em 600 mil reais.

O flagrante é a ponta de um conhecido esquema criminoso na Amazônia, que envolve o roubo de madeira e a grilagem de terras públicas. Os criminosos ambientais de Ponta do Abunã estão mirando as fartas áreas de floresta ainda intactas do Acre. A invasão acontece no momento em que o governador acreano, Gladson Cameli (PP), se inspira na política do agronegócio do estado vizinho, colocando em prática o processo que se chama a “rondonização” do Acre. 

Como quase todo o extremo oeste de Porto Velho, capital de Rondônia, foi devastado para a retirada de madeira e abertura de fazendas de gado, as florestas nos estados vizinhos são as únicas opções para fornecer madeira nobre às madeireiras – como também acontece no sul do Amazonas. Trata-se de um esquema operado em várias etapas.

Após o desmate e o roubo de madeira nobre, essas áreas são demarcadas e ocupadas por invasores. “Regularizada a posse”, os grileiros as vendem para terceiros. A infiltração de grileiros de Rondônia tem sido identificada por operações realizadas pelo BPA.

“Entre 2018 e 2019, da [Floresta Estadual do]  Antimary para lá, o número de pessoas que vêm de outros estados, principalmente de Rondônia, aumentou muito. Eles começaram a fomentar as invasões de terras públicas, projetos de assentamento e terras privadas”, explica o major Kleison Albuquerque, comandante do BPA. “Em todos os locais que vamos tem gente de fora. Gente que veio de fora para invadir.” 

Em 2021, os policiais também identificaram a entrada de madeireiros rondonienses para roubar toras em áreas de floresta na divisa entre os dois estados. Entre o fim de maio e o começo de junho, o BPA recebeu denúncias de derrubada ilegal em áreas de reserva legal de fazendas no município de Acrelândia, vizinho aos distritos de Nova Califórnia e Extremo, pertencentes a Rondônia. 

Esses distritos estão localizados na região conhecida como Ponta Abunã, uma das regiões rondonienses caracterizada pela intensa atividade madeireira. Além do leste acreano, o sul do Amazonas, no município de Lábrea, também é alvo das madeireiras da Ponta do Abunã. 

O Acre tem registrado elevadas taxas de desmatamento decorrente, sobretudo, da invasão de terras públicas – sejam elas áreas não destinadas ou unidades de conservação e projetos de assentamento. Áreas de reserva legal em propriedades privadas também são afetadas. 

Na Operação Curupira, em junho deste ano, três homens foram presos, e tratores e motosserras, apreendidos. As toras que já estavam cortadas e prontas para o transporte tiveram como destino o pátio do BPA em Rio Branco, e não as serrarias de Nova Califórnia. A polícia, contudo, ainda não decifrou como a madeira tem sido “esquentada” no estado vizinho. “A gente não sabe qual é o processo que eles usam em Rondônia para comercializar esta madeira”, afirma o comandante do batalhão ambiental. 

Em maio, investigações da Polícia Federal – que resultaram na Operação Akuanduba – apontaram que um dos esquemas usados para “lavar” madeira roubada na Amazônia é a utilização de planos de manejo, que estão sendo fraudados. Entre os alvos da PF está  ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, investigado por suspeita de facilitação ao contrabando de madeira.  


Leia a reportagem completa na Amazônia Real 

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