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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Vozes (jovens) na floresta

Jovens da Resex Chico Mendes se manifestam contra PL da Destruição 

As lideranças jovens que moram dentro da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes assinaram uma carta de repúdio na qual se manifestam contra o projeto de lei apresentado pela bancada da motosserra – liderada pela deputada federal Mara Rocha (PSDB) e o senador Márcio Bittar (MDB) – que quer reduzir o tamanho da unidade de conservação.

O projeto dos parlamentares foi apresentado a partir de uma reivindicação dos cinco maiores desmatadores e infratores da Resex, que já transformaram quase todas as suas áreas de floresta em pasto para o boi. O PL foi apresentado na Câmara pela deputada tucana, ligada ao setor ruralista acreano.

Por conta dos impactos que a aprovação da medida pelo Congresso pode ocasionar em uma unidade de proteção já bastante impactada pela pressão do agronegócio, ela passou a ser chamada de PL da Destruição.

A partir de uma reunião liderada por Mara Rocha e Márcio Bittar entre os maiores infratores da Resex e o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), as fiscalizações foram reduzidas e, em alguns casos, encerradas em 2019.  A principal reclamação dos infratores era sobre as operações realizadas pelo ICMBio – em parceria com o Exército – que resultaram até na apreensão de gado. 

“Diminuir a área de reserva extrativista excluindo seringais que, segundo os denunciantes, “não teriam mais perfil extrativista” será uma atitude que beneficiará quem descumpre a Lei, em detrimento de tantas conquistas alcançadas a custas de tantas lutas populares, mobilizações e morte de líderes seringueiros e extrativistas que dedicaram suas vidas à construção do conceito de reserva extrativista, conceito este, idealizado pelos moradores da floresta e que beneficia quem quer produzir a partir da floresta e não a destruindo”, diz a carta.

Com a fiscalização comprometida, o resultado é o crescimento recorde do desmatamento e das queimadas no interior da unidade. O total de floresta destruída aumentou 208% em 2019, quando comparado com o ano anterior. Em 2018, o desmatamento acumulado no interior da unidade de conservação foi de 24,58 km2. Agora, em 2019, chegou a 74,48 km2. Este é o pior resultado da série histórica iniciada em 2008 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).


Leia a carta na íntegra

CARTA DE REPÚDIO 

Nós, jovens lideranças da Reserva Extrativista Chico Mendes – RESEX Chico Mendes, extrativistas, moradores legítimos, filhas e filhos de seringueiros, repudiamos o projeto de Lei que prevê a redução da área de abrangência da Reserva, que está sendo elaborado pela deputada federal Mara Rocha (PSDB) a pedido de ocupantes, ilegítimos, dos seringais Nova Esperança, seringal Rubicon, Ramal dos Pereira, Ramal da Torre dentre outros.  

Segundo reportagem do jornal “AC 24 horas”, o projeto de Lei está sendo elaborado desde que um grupo de ocupantes da RESEX denunciaram, à Deputada Federal Mara Rocha, a atuação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal responsável pela gestão das Unidades de Conservação Federais do Brasil, em ação de fiscalização e notificação por ocupação indevida de colocações, apreensão de madeira e de gado na área da reserva. . 

Estas ações foram fomentadas por meio de decreto presidencial de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) que enviou militares das forças armadas para atuar conjuntamente com o ICMbio na execução da ação de fiscalização e notificação para desocupação.  Essas ações de fiscalização têm como objetivo cumprir a legislação federal que define na Lei nº (9985/2000) o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. 

  A condução das atividades produtivas da RESEX Chico Mendes devem seguir o plano de utilização, documento construído de forma participativa,  que tem como objetivo  “assegurar a conservação da RSEX mediante a regulamentação da utilização dos recursos naturais por parte de seus moradores através da determinação dos comportamentos a seres seguidos”.
Nos não somos contra a fiscalização, muito pelo contrário, achamos que tem pouca fiscalização e essas mobilizações nacionais são por nós apreciadas. Porém, achamos que investigações sobre os possíveis excessos cometidos pela equipe de fiscalização devem ser apuradas pelos órgão competentes. 

Mas, diminuir a área de reserva extrativista excluindo seringais que segundo os denunciantes “não teriam mais perfil extrativista” será uma atitude que beneficiará quem descumpre a Lei, em detrimento de tantas conquistas alcançadas a custas de tantas lutas populares, mobilizações e morte de líderes seringueiros e extrativistas que dedicaram suas vidas à construção do conceito de Reserva Extrativista, conceito este, idealizado pelos moradores da floresta e que beneficia quem quer produzir a partir da floresta e não a destruindo. 

Assim, cumprindo com nosso dever, previsto no parágrafo primeiro do Art 23 da lei do SNUC “os moradores devem participar da preservação, recuperação, defesa e manutenção das Reservas Extrativistas” vimos através desta carta externalizar publicamente nosso repudio ao projeto de Lei que está sendo elaborado pela referida Parlamentar.



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