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quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Notícias desde a Floresta - 2020

Expresso da Floresta (Foto: Fabio Pontes)

Já se passaram 15 dias desde o começo do ano novo, e aqui estou eu voltando a escrever no blog após um curto e merecido tempo de repouso. Afinal de contas, nunca antes na história de minha jovem vida jornalística no Acre houve um ano tão conturbado e crítico na cobertura da questão amazônica.

2019 foi um ano que literalmente pegou fogo aqui pela Amazônia. As coisas não melhoraram porque a tropa de elite foi colocada na floresta - como insistem em destacar alguns veículos de comunicação deste país -, mas porque as chuvas chegaram com tudo e apagou o fogareu.

Por ser gigantesca, na Amazônia brasileira o período de chuvas e seca varia de estado para estado. Enquanto que aqui na porção mais sul (onde está meu estado do Acre) estamos no chamado “inverno amazônico”, em outras partes predomina o Sol e o tempo seco. Portanto, é difícil falar numa previsão de tempo homogênea para toda a região Norte.

Pelas cabeceiras dos rios acreanos (a maioria nascendo no Peru) está caindo muita água. Ainda não houve grandes transbordamentos para desabrigar as famílias - ainda bem. Contudo, as águas vão continuar a cair pelo menos até o início de abril. Daí em diante vai se começar o que chamamos de “verão amazônico”, quando acabam as chuvas e se seguem seis meses de estiagem.

As temperaturas se elevam mais do que de costume, e a umidade do ar despenca dos atuais 88% para perto dos 20%. Estes são os ingredientes perfeitos para transformar a vegetação em um combustível para as queimadas. Como a floresta ainda estará muito úmida entre abril, maio e junho, a fogueira mesmo só vai começar a partir de julho, intensificando-se entre agosto e setembro - os meses mais críticos do “verão amazônico”.

Foi justamente neste período do primeiro ano de governo Jair Bolsonaro que o mundo percebeu que a Amazônia estava pegando fogo havia já algum tempo. Enquanto isso, o presidente da República negava a situação e dizia que ONGs e índios estavam botando fogo na floresta. Somente após muita pressão internacional e ameaças de boicote aos produtos do agronegócio, Bolsonaro decidiu enviar a tropa para apagar o fogo na Amazônia, mostrando ao mundo que fazia algo.

Enquanto isso, seu ministro do Meio Ambiente cumpria as ordens palacianas de destruir as estruturas dos órgãos ambientais, ameaçando e intimidando os servidores de tais instituições, acabando com as fiscalizações para proteger os infratores. Esta mesma desestruturação continua agora em 2020.

Se há alguma dúvida quanto ao ano que começa, esta não é relacionada às políticas ambientais do país, que continuarão a ser destruídas pelo atual governo federal. Também não há dúvidas de que a Amazônia voltará a ser incendiada da mesma forma que em 2019, com o poder público fazendo vista-grossa e – de certa forma – até fomentando.

Diante de todos estes cenários ruins, a única solução é continuarmos alertas aqui pela Amazônia. Desde o interior da floresta manterei o trabalho de escrever notícias sobre o que se passa com a floresta, da mesma forma como foi em 2019: entrando no fogo, percorrendo ramais, estradas de seringa, navegando pelos rios e sobrevoando as copas das árvores.

Para ser bem sincero espero que não vejamos o mesmo cenário de destruição do ano passado, pois os prejuízos são incalculáveis: perda da vida animal e vegetal, a destruição de toda uma biodiversidade. Nós, seres humanos, pagamos respirando um ar poluido, desenvolvendo doenças respiratórias. Infelizmente, diante dos governos que temos, não há como ser tão otimista assim.

Que 2020 possa ser um ano menos ruim do que foi 2019 para a Amazônia brasileira.

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